São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 1995
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Testicocéfalos que ladram, mordem?

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Vai mal a masculinidade tapuia. Segundo recente pesquisa patrocinada pela Unicamp, 80% dos homens brasileiros preferem casar com virgens. Até aí, nenhuma novidade. Sempre fomos um país de machões de quinta e travestis de primeira.
Mais incômodo do que esse intrigante dado, porém, é o que tem por aí de celebridade testicocéfala, ou seja, aquele senhor famoso cujo cérebro é comandado por hormônios masculinos e que se dispõe a fornecer detalhes de suas aventuras priapísticas a todo foca de revista de mexericos que se preste a dar ouvidos.
Em geral, a inteligência da celebridade testicocéfala é inversamente proporcional ao tamanho do órgão sexual e diretamente proporcional ao tamanho de sua modéstia.
É o caso de clássicos como, digamos, Renato Gaúcho e Alexandre Frota, que se gabam de traçar qualquer ser que respire, tenha boca, faça sombra na praia, barulho na banheira e pese mais de 30 quilos.
Um de meus humoristas prediletos, o diretor teatral Gerald Thomas, testicocéfalo mundialmente conhecido no eixo Berlim, Nova York, Higienópolis, faz parte de outro grupo, o dos testicocéfalos ficcionistas.
Thomas turbou (com perdão do apropriado cacófato) as páginas da "Playboy" que está nas bancas, com uma entrevista em que discorre pela milionésima vez sobre suas supostas proezas de alcova e sobre ser bem-dotado a ponto de ter de tomar cuidados especiais durante o coito.
Qualquer mulher com um mínimo de criatividade já sentiu a velha de guerra inveja de pênis ao menos uma vez na vida. Afinal, que o brinquedo é divertido, ninguém pode negar.
Por outro lado, tudo tem limite. Machões e testicocéfalos deveriam levar em conta uma frase antológica que me foi dita certa vez por minha amiga Bucicleide -e que me deixou de cabelo em pé: "Já fiz sexo com muita gente sem poronga e olha que me diverti à beça".
Tudo bem. Buci, digo, Cleide, é uma senhora um tanto extraordinária. Mas que de vez em quando dá uma vontade irresistível de jogar as porongas de machões e testicocéfalos para o gato comer, isso dá.

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