São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 1995
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Publicidade busca formato para a Internet

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

A controvérsia envelheceu e virou pó em questão de meses. Quem queria discutir "comercialismo" na Internet ficou falando sozinho. Sim, nossos computadores serão entupidos de anúncios. Aliás, já estão sendo. O debate agora é sobre o formato que a propaganda vai assumir.
Quem diria: um dia já existiram puristas querendo preservar o espírito de faroeste da rede. Foram fulminados feito índios. Tarefa para Madison Avenue: arrumar uma justificativa intelectual para bombardear infonautas de comerciais. Descolar uma forma de transformar hackers em consumidores.
Há gente que a partir disso prevê uma revolução da propaganda. Os publicitários, que sempre foram mestres em economizar palavras, procuram uma nova linguagem para usar on line. No rádio e na TV o que vale é o punch, o slogan ou a imagem que equivale a um soco na boca do estômago. Na Internet o trabalho é mais o de cevar peixe, ganhar pelo cansaço.
O muro que impedia o avanço das águas do "comercialismo" cedeu por uma razão muito simples: há muita gente -e gente com muito dinheiro- frequentando a Internet. Com medo de ficar para trás dos concorrentes, não há grande empresa americana que não busque como se mostrar nas redes.
Há muitas alternativas para o anunciante. A primeira delas é comprar espaço em um lugar popular da Internet. Por exemplo, no fórum da revista "Wired", uma publicação futurista que faz o maior sucesso com os habitantes do ciberespaço. Toda vez que você aciona ou deixa o fórum, dá de cara com um anúncio da Silicon Graphics, que paga US$ 15 mil mensais pelo outdoor eletrônico.
Outras empresas montam seus próprios fóruns para dar informação aos interessados em comprar seus produtos. A Digital, por exemplo, tem um beco onde o visitante dá de cara com pelo menos dez opções. Pode ler de uma carta do presidente a detalhes sobre as pesquisas mais recentes dos engenheiros da empresa. Quer comprar um computador Digital? Tome lista de revendedores, tabela de preços, sugestão de acessórios.
Os especialistas acham que as duas opções acima são formatos antiquados, meras transposições para o mundo eletrônico dos anúncios de jornais ou dos folhetos mandados por mala direta. Já existe um consenso de que a propaganda na Internet terá que acompanhar o dinamismo do meio, se quiser dar retorno e sobreviver.
Eles lembram que, ao contrário dos telespectadores, que só se livraram da ditadura dos comerciais graças ao controle remoto, os usuários da Internet já nasceram com o poder: só vão se submeter aos anúncios que interessarem. Com o clique do mouse é que vão escolher seu destino na teia dos interesses comerciais.
Gerald O'Connell, uma fera no assunto, acha que a Internet será o primeiro meio na história a oferecer a possibilidade de "anúncios específicos para indivíduos específicos em horas específicas".
Um exemplo: na véspera de uma megashow da Madonna em Nova York, a gravadora poderá promover seu mais recente disco junto aos usuários de um fórum de música pop que reúne infonautas da região nova-iorquina.
Trocando em miúdos, o público-alvo dos comerciais na Internet vai ser cada vez mais específico com mensagens cada vez mais individualizadas. Munidos de estatísticas sobre padrão de consumo, os anunciantes esperam ocupar a tela de um computador com a mensagem: "Caro sr. Jones, ao abastecer seu carro, hoje, passe por nosso posto mais próximo e mencione que viu esta mensagem e garanta 10% de desconto."

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