São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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Cutolo desobedece a Maciel e FHC intervém

VIVALDO DE SOUSA; MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Erramos: 21/04/95
Diferentemente do que saiu publicado ontem na legenda da foto à pág. 1-11, é o ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra, quem aparece ao lado do presidente interino Marco Maciel e não o general Benedito Leonel.
Pressionado pelos aliados no Congresso, o presidente Fernando Henrique Cardoso convocou para segunda-feira o presidente da CEF (Caixa Econômica Federal), Sérgio Cutolo, para rediscutir o programa de reforma na instituição.
O almoço foi marcado pelo chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, a pedido de FHC, que coordenou a operação de Nova York. Assim que voltar da viagem aos EUA, o presidente vai receber um pedido de líderes governistas para cancelar a reforma na CEF.
Apesar da determinação do presidente interino Marco Maciel de suspender a reforma, o presidente da CEF (Caixa Econômica Federal), Sérgio Cutolo, disse ontem à Folha que insistirá para o programa ser mantido.
À tarde, Maciel reafirmou, através de sua assessoria, a ordem para que o programa seja suspenso temporariamente, tomada sem consulta prévia ao titular FHC.
Maciel pretendia conversar com FHC ontem à noite. Informado sobre as declarações de Cutolo, ele mandou sua assessoria dizer que não faria nenhum comentário.
O presidente da CEF fez uma única concessão a Maciel. Adiou a posse dos seis novos coordenadores regionais da CEF. Eles substituirão os atuais 31 superintendentes regionais.
É justamente a drástica redução de cargos de confiança no organograma da CEF que gerou a reação dos partidos governistas e a consequente ordem de Maciel.
Segundo Cutolo, o enxugamento permitiria uma economia anual de R$ 500 milhões.
No Congresso, os parlamentares aliados ao governo decidiram propor que a suspensão temporária seja transformada em definitiva. Levarão a sugestão a FHC na próxima semana, quando já estará de volta da viagem aos EUA.
A Folha apurou que a equipe de Cutolo teme ser obrigada a abrandar o programa de ajustes na instituição. Já consideram a hipótese de ter de aumentar o número de coordenadorias regionais, incluindo nos planos a criação de uma coordenadoria em Pernambuco, terra de Maciel.
Pelo cronograma traçado por Cutolo, seria inaugurada ontem a coordenadoria do Rio de Janeiro. Ele manteve a viagem ao Estado, mas não formalizou a providência. Antes de viajar, recebeu nove parlamentares. "Estamos explicando porque houve ruídos".
Hoje, Cutolo inauguraria a nova estrutura na Bahia e no Ceará. Na sexta-feira, seria a vez de Brasília e Rio Grande do Sul. A equipe da CEF espera retomar o processo na próxima semana.
A reação dos políticos foi motivada pelo interesse dos partidos na nomeação de apadrinhados para os postos que Cutolo quer extinguir.
"São muito fortes as pressões no Congresso", disse ontem o vice-líder do governo na Câmara, Benito Gama (PFL-PE). Ao lado de outro vice-líder, Jackson Pereira (PSDB-CE), Benito coordena a reação dos parlamentares contra a reforma da CEF.
A suspensão temporária da reforma, noticiada ontem pela Folha, foi comemorada pelas lideranças governistas num jantar promovido pelo líder do governo no Congresso, deputado Germano Rigotto (PMDB-RS).
Coube a Benito contar para os líderes a decisão de Maciel. O anfitrião do jantar avaliou que a mudança de estrutura da Caixa e o esvaziamento das superintendências nos Estados estavam sendo conduzidos "de forma desastrada".
Na avaliação de líderes ouvidos pela Folha, o fim das superintendências da CEF nos Estados sem consulta prévia aos parlamentares poderia levar o governo a novas derrotas no Congresso.

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