São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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Acordo é retórico e insignificante para a língua

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

A aprovação do acordo ortográfico é uma vitória da burocracia -uma de nossas heranças lusitanas. O acordo é sobretudo retórico: as mudanças são mínimas e a maioria das diferenças se mantém.
Por exemplo, as alterações na grafia das consoantes mudas dizem respeito a 0.54% do vocabulário da língua em Portugal (na língua escrita no Brasil não muda nada porque essas consoantes já não eram escritas há tempos).
As grafias diferentes, que se devem a pronúncias diferentes (como "facto" em Portugal e "fato" no Brasil), se mantêm e são maioria.
Para a acentuação, a mesma coisa. Mudam uns poucos ditongos, mas a maioria das diferenças continua a existir (como "bebê" no Brasil e "bebé" em Portugal).
Qual afinal é o sentido de se fazer reimprimir os dicionários e documentos oficiais, para adequá-los ao novo acordo, se as mudanças são tão insignificantes? Parece muito barulho por nada.
Uma das razões levantadas para o interesse de se firmar esse acordo seria a representatividade da língua portuguesa na União Européia. Nesse caso, seria um "acordo para inglês ver".
Português é a sétima língua mais falada no mundo e é idioma oficial em sete países. O inglês é uma das línguas oficiais em 45 países. Mas a língua mais falada no mundo é o chinês e quase ninguém quer aprendê-lo.
Isso posto, como afirmou Antonio Callado ontem na Folha , acordo ortográfico "é coisa de gente que não tem o que fazer".

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