São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 1995
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Rio Negro favorece acúmulo de mercúrio

ANDRÉ MUGGIATI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O cientista norte-americano Bruce Forsberg encontrou, na região do alto rio Negro, os maiores índices de contaminação por mercúrio em habitantes da Amazônia.
Em seu trabalho, ainda não publicado, descobriu evidências de que o alto índice de contaminação pode estar relacionado aos tipos de solo e à acidez das águas, que facilitariam a entrada do mercúrio na cadeia alimentar do homem.
A média de contaminação é de 75 p.p.m. (partes por milhão, que equivale a um miligrama de mercúrio por quilograma de peso) em cada quilo de fios de cabelo analisado. O normal é não ter mercúrio, que é uma substância tóxica.
A região do pico da Neblina estudada por Forsberg, que trabalha junto ao Inpa (Instituto de Pesquisas da Amazônia), não apresenta grande atividade de mineração de ouro. Por isso, não deveria ocorrer a contaminação.
Na Amazônia, o mercúrio é usado nos rios para garimpagem de ouro.
"Fiquei muito surpreso com os índices encontrados, equivalentes aos de grandes catástrofes ecológicas como o derramamento de mercúrio na bahia de Minamata (Japão), na década de 50, que matou centenas de japoneses", diz.
Para Forsberg, o mercúrio no alto rio Negro poderia ter várias origens: na mineração em toda a Amazônia (ventos que carregam a fumaça do mercúrio vaporizado), na produção de mercúrio por indústrias e em vulcões.
Ainda assim, segundo ele, deveria haver uma explicação para o fato de as populações do alto rio Negro serem mais afetadas que as de outras regiões da Amazônia.
Para Forsberg, a explicação poderia ser o tipo de solo, que teria maior concentração de matéria orgânica. O mercúrio combina-se com facilidade a elementos orgânicos.
Além disso, o cientista constatou que a contaminação por mercúrio é maior nos afluentes do rio onde há maior acidez das águas.
A acidez favorece a proliferação de bactérias que possibilitam o ingresso do mercúrio na cadeia alimentar.
Na cadeia alimentar, o mercúrio contamina pequenas plantas, depois os peixes que se alimentam destas plantas, depois os peixes maiores até chegar à população humana.

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