São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 1995 |
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Trilha funde vozes feminina e masculina
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Ao assumir a consagrada afirmação do crítico francês Patrick Barbier, segundo a qual é impossível um intérprete moderno abordar o repertório dos castrati na ópera barroca, cria mais uma mistificação musical via realidade virtual. Para corroborar a tese, o produtor musical, Christophe Rousset, cravista do grupo Les Arts Florissants, utilizou alta tecnologia. Criou uma voz hiper-real, idealizada, de um castrati, fundindo digitalmente as vozes de um contratenor, Derek Lee Ragin, e uma soprano, Ewa Mallas-Godlewska. Cada um dos cantores interpretou as dez árias da trilha. Por processo de fusão e edição, as frequências das duas vozes foram homogeneizadas, mantendo-se a tessitura típica de três oitavas. O resultado é artificial e meio monstruoso, embora a escolha do repertório seja original (obras virtuosísticas de Porpora, Riccardo Broschi e Haendel) e o equilíbrio do grupo Les Talents Lyriques, de alta qualidade. Surge na trilha uma voz sobrenatural que nenhum castrato real teria sido capaz de possuir. O procedimento leva o ouvinte a pensar que a arte foi escrava dos barbeiros no século 18. Só uma operação mutiladora seria capaz de produzir a máxima excelência vocal. Isso é falso. Nos últimos cinco anos surgiu uma nova geração de sopranistas e contraltistas cuja técnica reproduz a dos castrati, sem exigência da operação. O CD "Les Temps des Castrats", lançado pela EMI em 1994, dá uma boa mostra da capacidade dos modernos cantores. O próprio Derek Lee Ragin está ali, cantando uma ária de Hasse, e mostrando que faz um ótimo falso castrado. (LAG) Texto Anterior: 'Farinelli' converte divo em galã iluminista Próximo Texto: Isabel Allende ganha na telas mais uma adaptação equivocada Índice |
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