São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 1995
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Grupos de rap fazem festival em favela do Rio

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

A realidade é a mesma e o objetivo, um só: desenvolver a consciência da negritude nas comunidades carentes do Rio e discutir a violência da qual essas comunidades são vítimas.
Por isso, um grupo de rappers cariocas resolveu organizar um festival para mostrar seu trabalho em plena favela da Vila do João (uma das que formam o Complexo da Maré, em Bonsucesso, zona norte da cidade).
Os rappers são músicos ligados ao rap -palavra derivada das iniciais de "rhythm and poetry" (ritmo e poesia), corrente musical de origem norte-americana que usa batidas eletrônicas pré-gravadas e letras com forte conteúdo de contestação política e social.
O 1º Voz Ativa -o nome do festival- acontece amanhã a partir das 13h no meio da rua 14, a principal da favela da Vila do João.
Paz
"É um evento de paz. A comunidade passa por dificuldades e precisamos acabar com esse estigma da violência", diz Fernando Xhackal, 22, do grupo Realidade Social e um dos organizadores do festival.
A idéia de montar o festival surgiu a partir da dificuldade dos rappers em mostrar seu trabalho. Eles são rejeitados por empresários e organizadores de bailes nos clubes cariocas.
"Quando dizemos que somos 'da consciência', eles dizem que não têm vagas para shows. Às vezes escondemos que somos rappers", diz Luck, morador da favela da Rocinha (em São Conrado, zona sul do Rio) e letrista do Ponto 50.
Segundo os rappers, os funkeiros são preferidos pelos organizadores dos bailes. "As músicas deles não dão consciência para a rapaziada", afirma Julio César, 19, do Justiça Negra.
A intenção é fazer um evento pacífico, mas as letras dos raps que serão apresentados pelos grupos mostra que ali não haverá espaço para o "melody" -música para dançar, com letras mais "inocentes".
"Somos negros, somos maiorais. Isso mesmo, seu racismo não nos calará jamais", canta Sandra Regina, 23, vocalista do Negro no Poder, grupo formado por músicos da Rocinha.
Sandra diz que ouvia e gostava de funk até conhecer o rap. "Meus amigos me mostraram que o funk é alienado. Já apanhei muito da polícia e preciso conscientizar as pessoas para evitar que essas coisas se repitam", diz Sandra, que além de rapper diz trabalhar como "secretária particular numa casa".

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