São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 1995 |
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Henderson reverencia a bossa de Jobim
CARLOS CALADO
Depois dos brilhantes "Lush Life" (álbum baseado na obra de Billy Strayhorn) e "So Near, So Far" (com temas de Miles Davis), Henderson interpreta o songbook de Jobim, como se realizasse um sonho de três décadas. Nada mais natural para um saxofonista americano que, nos anos 60, chegou a ser influenciado pela sonoridade "cool" de Stan Getz -o principal divulgador da bossa nova no mercado internacional. "Jobim teve um efeito profundo sobre o modo como eu tratei melodias que já andavam na minha cabeça", reconhece Henderson, no encarte do álbum. Na verdade, o projeto original incluía gravações no Brasil, ao lado do próprio Jobim. Mas, quando Henderson já se preparava para viajar, o estado de saúde do mestre da bossa se agravou. Com sua morte, em dezembro último, a parceria virou tributo póstumo. Arco-Íris O título "Double Rainbow" (Duplo Arco-Íris) reflete o conceito do álbum. As 12 faixas são divididas em duas suítes, com colorações sonoras bem diferentes. Na primeira parte, o tempero rítmico soa autenticamente brasileiro. Para isso, Henderson foi acompanhado por Oscar Castro-Neves (violão), Eliane Elias (piano), Nico Assumpção (baixo) e Paulo Braga (bateria). "Amor em Paz" ganhou o arranjo mais despojado nessa suíte brasileira, recriada só com sax e violão. Alternando quintetos e quartetos, Henderson interpreta também "Felicidade", "Vivo Sonhando", "Boto" e "Lígia". Tom jazzístico Já nas sete faixas restantes, em contexto marcadamente jazzístico, o sax tenor de Henderson tem a seu lado três músicos norte-americanos: Herbie Hancock (piano), Christian McBride (baixo) e Jack DeJohnette (bateria). As formações também variam. Há duos ("Happy Madness" e "Modinha"), um trio ("Retrato em Branco e Preto") e quartetos ("Triste", "Fotografia", "Chega de Saudade" e "Passarim"). A assumida homenagem não impede que o tratamento das canções de Jobim seja bastante livres. "Gosto de tocar sua música do mesmo modo que algumas das canções de Cole Porter ou de Gershwin", explica Henderson. É o que se ouve em "Chega de Saudade", recriada com uma levada jazzística; em "Fotografia", tratada como uma delicada valsa-jazz; ou ainda em "Retrato em Branco e Preto", transformada em uma sensível balada. Quem esperava encontrar ecos distantes das experiências de Stan Getz com a bossa nova, errou longe. Sem deixar de soar "cool", Henderson demonstra mais uma vez que é capaz de imprimir sua personalidade e elegância musical em qualquer tema. O que mais se poderia esperar quando um mestre do jazz visita obras-primas do mestre da canção brasileira? Título: Double Rainbow - The Music of Antonio Carlos Jobim Artista: Joe Henderson Músicos: Oscar Castro-Neves (violão); Herbie Hancock e Eliane Elias (piano); Nico Assumpção e Christian McBride (baixo); Jack DeJohnette e Paulo Braga (bateria) Produção: Oscar Castro-Neves e Richard Seidel Lançamento: Verve/Polygram Quanto: R$ 20 (o CD, em média) Texto Anterior: CONHEÇA ALGUMAS LETRAS Próximo Texto: Cultura FM toca o CD hoje Índice |
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