São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 1995
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Índios recuperam espaço em Brasília

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os índios ganharam. Depois de seis anos de controvérsias, pajelanças e brigas políticas, os índios tomaram posse do seu espaço artístico em Brasília.
O Memorial dos Povos Indígenas começou a funcionar "simbolicamente" em mais um edifício planejado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, em frente ao Memorial Juscelino Kubitschek, fundador da cidade, e ao Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal.
A data do dia do índio, anteontem, foi escolhida para a abertura de uma exposição que vai até o dia 5 de maio.
O prédio, em forma de oca (habitação indígena), foi projetado e construído em 88 a pedido do então governador do Distrito Federal, José Aparecido de Oliveira, para ser um Museu do Índio.
Quando os índios se preparavam para tomar conta do espaço, Aparecido e Niemeyer resolveram que a "oca" seria um museu de arte contemporânea.
Irritados, os índios invadiram o prédio e os pajés Raoni e Sapaim promoveram uma pajelança para, segundo eles, amaldiçoar o lugar e não permitir que fosse ocupado.
O prédio foi repassado ao governo federal que, na posse do ex-presidente Collor, em 89, chegou a inaugurar o local com uma mostra de arte venezuelana.
Até anteontem, nenhum governo (federal e do DF) se interessou pelo espaço que foi se deteriorando e chegou a ser abrigo de mendigos.
O Movimento dos Artistas pela Natureza conseguiu assinaturas de 250 artistas plásticos brasileiros, comprometendo-se a nunca expor naquele espaço se ele não fosse dedicado aos índios.
A cerimônia de inauguração simbólica do Memorial dos Povos Indígenas anteontem foi batizada de "rito de passagem" pelo Governo do Distrito Federal, em uma alusão aos costumes tribais.
Estarão expostas 20 fotografias de Maureen Bisilliati sobre índios do Xingu, acompanhadas de textos dos irmãos sertanistas Cláudio e Orlando Villas Boas.
Haverá ainda a reedição de uma mostra de leituras artísticas das armadilhas pontiagudas que índios de Rondônia colocam no chão, entre folhas, para furar pneus de caminhões.
Essa mostra inclui 25 obras de Tomie Ohtake, Guto Lacaz, Wesley Duke Lee e outros artistas sobre as armadilhas.

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