São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 1995
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Empresários apóiam estado de sítio

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ (BOLÍVIA)

As maiores organizações empresariais da Bolívia deram apoio aberto à decretação do estado de sítio no país, que resultou na prisão de 323 sindicalistas e grevistas e impôs um série de medidas restritivas à população.
Partidos de oposição no Congresso tentavam ontem conseguir a maioria dos 130 deputados federais para derrubar a medida.
Já a estratégia do partido do governo, o MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), é evitar quórum na Câmara dos Deputados numa possível votação que derrube o estado de sítio.
Votação nesse sentido está prevista no artigo 111 da Constituição boliviana e tornou-se a prioridade do oposicionista MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária).
Os empresários, por sua vez, apoiaram as medidas. "O governo vinha sendo tolerante demais e o estado de sítio foi decretado no momento preciso", disse Julio Kempff, secretário da Federação de Empresários Privados.
Marcelo Somertein, da Câmara de Indústria e Comércio, disse que a medida foi necessária para "preservar a estabilidade social e acabar com o clima de anarquia".
A Confederação de Empresários Privados, representante máxima dos empresários, pagou anúncio de meia página nos jornais defendendo o estado de sítio.
As declarações levantaram suspeitas entre sindicalistas da COB (Central Operária Boliviana) de que o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada (MNR) tenha cedido a pressões dos empresários e das Forças Armadas para adotar medidas extremas contra os grevistas.
Os empresários alegam que os últimos confrontos no país estariam "afugentando o capital externo da Bolívia".
O secretário da COB, Oscar Salas, que está preso, é contra projeto do governo de transferir para a iniciativa privada 50% das ações das estatais de petróleo, telecomunicações, transportes aéreos e ferroviários, eletricidade e fundição.
A venda de participações, aberta a investidores internacionais, segundo o projeto, injetaria cerca de US$ 3,5 bilhões nas próprias empresas nos próximos anos.
O governo diz não ter neste momento condições financeiras para atender às reivindicações dos professores, que estão em greve há mais de três semanas e que vinham sendo os responsáveis pelos maiores confrontos com a polícia nos últimos dias.
Os professores querem reajuste de US$ 70 em seus salários e são contra as atuais reformas no ensino. Boa parte da categoria, com cerca de 80 mil integrantes, recebe menos de US$ 30 mensais.

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