São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 1995
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Canapi em festa

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Mais deslumbrada e provinciana do que a Canapi real -que honestamente nem sei onde fica- a Canapi do eixo Rio-São Paulo vestiu todas as suas plumas e desabou em Nova York -palco preferido por nove entre dez peruas de todos os sexos.
Só um exemplo: o ex-secretário Henry Kissinger, que fisicamente está cada vez mais parecido com o Paulo Francis, esteve no Brasil há duas semanas e aqui declarou, convictamente, que o Brasil não era o México. Agora, num café da manhã com FHC (Kissinger tem tabela de preços para cobrar sua participação nessas amenidades), ele disse à mídia brasileira que para lá se deslocou: "Estou muito contente porque o presidente Cardoso me garantiu que o Brasil não é o México".
As folhas mostraram o nosso presidente sendo cumprimentado efusivamente por duas lideranças mundiais: no primeiro dia da visita, pelo banqueiro John Reed, do Citibank. No segundo dia por Paul Boeker, do Instituto das Américas.
À falta do que elogiar, os dois próceres louvaram o inglês presidencial -ao contrário do presidente da Anistia Internacional que, recentemente, não entendeu muito bem o francês de FHC.
Descendo à planície, a peruagem mercadológica esteve em festa: Nova York parou, não se fala em outra coisa senão no sucesso de Sônia Braga, na bossa do Caetano, no mau humor (genial) do João Gilberto e nos olhos aveludados do Milton Nascimento. Para se deslumbrar com tal e tanto, o presidente não precisaria ir a Nova York levando 41 funcionários pagos pelos cofres de uma nação que se masturba com o caos social em que vive.
Dona Danuza Leão já devia ter juízo para não se deslumbrar tanto, mas foi ela própria que descobriu o óbvio: como FHC combina com essa gente bonita e bacana! Sim, é a glória.
A atração fatal que o presidente cultiva pelo salão ainda pode lhe custar caro. Um profissional, como Marco Maciel, sabe das coisas. Um país se governa entre quatro paredes, diante de uma mesa prosaica, com um único foco de luz em cima da conta do que tem e do que deve.

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