São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Fantasma do Cruzado assusta Real

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira reencontrou o caminho do crescimento acelerado. Há pelo menos 10 anos que a indústria do país não produz e vende tanto. A intensidade da expansão equivale à do apogeu do Plano Cruzado. E, se mantido ao longo de 95, o aumento de 9,1% no PIB no primeiro trimestre apontaria para um novo "milagre brasileiro" em curso -como na primeira metade dos anos 70.
Raros durante o período de estagnação dos anos 80, surtos de expansão das atividades econômicas passaram a integrar o currículo de problemas listados pelos economistas como capazes de fazer naufragar planos de estabilização.
O fantasma do Cruzado volta a assustar o governo, que se prepara para anunciar mais uma rodada -as duas anteriores foram insuficientes- de medidas para conter o consumo. Evitar que as pessoas gastem o dinheiro que tem no bolso tornou-se a preocupação dominante em Brasília por causa da crise mexicana.
Os sinais de perigo estão concentrados na aritmética simples do que o Brasil vende e compra do exterior. No primeiro trimestre, houve déficit de US$ 2,33 bilhões. Qualquer coisa abaixo de US$ 5 bilhões positivos terão de ser extraídos dos US$ 30 bilhões que o governo tem em divisas fortes.
As divergências entre empresários e governo sobre o nível de consumo hoje existente encerram diferentes formas de se medir a saúde da economia. Os dois lados têm boas razões.
Com inflação reduzida, as indústrias deram exemplo de vitalidade. Para o mesmo ritmo de utilização do parque industrial de 86, o país agora exporta mais que o dobro de manufaturados com um número de horas trabalhadas 30% inferior (dados da Fiesp) e sem problemas de abastecimento. Mais importante: até a mexida cambial, sem pressão de preços.
É com base no ótimo desempenho do Real e na reacomodação do consumo presente que os empresários acreditam que o pacote não é necessário.
"O primeiro trimestre foi um pouco acima das expectativas", analisa José Paulo do Amaral, diretor superintendente das Lojas Americanas, a maior cadeia varejista do país, com vendas superiores a US$ 1 bilhão em 93. Como seus concorrentes, ela vinha exibindo aumentos de 25% a 30% no faturamento no trimestre em relação ao mesmo período de 94. A situação mudou após a Páscoa.
"As vendas desceram de patamar, caíram 5 a 10 pontos percentuais", diz Amaral. "É um índice razoavelmente positivo, nada extraordinário". Para ele, as medidas anticonsumo editadas no início do ano "estão surtindo efeito" e são suficientes. "A economia está reencontrando um ritmo equilibrado. Uma queda acentuada das atividades geraria insegurança."
"Não há motivo algum para desaquecer a economia", diz Samuel Klein, presidente da Casas Bahia, rede de eletroeletrônicos e móveis, que deve encerrar o ano com 150 lojas e seu primeiro US$ 1 bilhão de vendas. "Vivemos em tempos de moeda forte com um crescimento compatível, não elevamos preços e nem estamos sofrendo pressão de aumentos de fornecedores".

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sobre consumo nas págs. 2-5, 2-6 e 2-7

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