São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995 |
Próximo Texto |
Índice
Fantasma do Cruzado assusta Real
JOSÉ ROBERTO CAMPOS
Raros durante o período de estagnação dos anos 80, surtos de expansão das atividades econômicas passaram a integrar o currículo de problemas listados pelos economistas como capazes de fazer naufragar planos de estabilização. O fantasma do Cruzado volta a assustar o governo, que se prepara para anunciar mais uma rodada -as duas anteriores foram insuficientes- de medidas para conter o consumo. Evitar que as pessoas gastem o dinheiro que tem no bolso tornou-se a preocupação dominante em Brasília por causa da crise mexicana. Os sinais de perigo estão concentrados na aritmética simples do que o Brasil vende e compra do exterior. No primeiro trimestre, houve déficit de US$ 2,33 bilhões. Qualquer coisa abaixo de US$ 5 bilhões positivos terão de ser extraídos dos US$ 30 bilhões que o governo tem em divisas fortes. As divergências entre empresários e governo sobre o nível de consumo hoje existente encerram diferentes formas de se medir a saúde da economia. Os dois lados têm boas razões. Com inflação reduzida, as indústrias deram exemplo de vitalidade. Para o mesmo ritmo de utilização do parque industrial de 86, o país agora exporta mais que o dobro de manufaturados com um número de horas trabalhadas 30% inferior (dados da Fiesp) e sem problemas de abastecimento. Mais importante: até a mexida cambial, sem pressão de preços. É com base no ótimo desempenho do Real e na reacomodação do consumo presente que os empresários acreditam que o pacote não é necessário. "O primeiro trimestre foi um pouco acima das expectativas", analisa José Paulo do Amaral, diretor superintendente das Lojas Americanas, a maior cadeia varejista do país, com vendas superiores a US$ 1 bilhão em 93. Como seus concorrentes, ela vinha exibindo aumentos de 25% a 30% no faturamento no trimestre em relação ao mesmo período de 94. A situação mudou após a Páscoa. "As vendas desceram de patamar, caíram 5 a 10 pontos percentuais", diz Amaral. "É um índice razoavelmente positivo, nada extraordinário". Para ele, as medidas anticonsumo editadas no início do ano "estão surtindo efeito" e são suficientes. "A economia está reencontrando um ritmo equilibrado. Uma queda acentuada das atividades geraria insegurança." "Não há motivo algum para desaquecer a economia", diz Samuel Klein, presidente da Casas Bahia, rede de eletroeletrônicos e móveis, que deve encerrar o ano com 150 lojas e seu primeiro US$ 1 bilhão de vendas. "Vivemos em tempos de moeda forte com um crescimento compatível, não elevamos preços e nem estamos sofrendo pressão de aumentos de fornecedores". LEIA MAIS sobre consumo nas págs. 2-5, 2-6 e 2-7 Próximo Texto: Vôo das cegonhas; Nova altitude; Curva ascendente; Área de manobra; Na onda; No vermelho; Ganhando altura; Hora de captar; Balanço energético; Linha de expansão; Quem conquista Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |