São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Estudo diz quem é o empreendedor

NELSON ROCCO
DA REPORTAGEM LOCAL

O empreendedor brasileiro tem forte poder de persuasão e boa rede de contatos. Atua nos negócios com independência e autoconfiança. Sabe também buscar oportunidades e tem iniciativas.
Mas não se empenha no planejamento e monitoramento das atividades. Deixa, portanto, de estabelecer metas. Esse empreendedor costuma se comprometer pouco com o seu próprio negócio.
Esses são os pontos fortes e fracos detectados pela pesquisa "Características e Perfil do Empreendedor Brasileiro", realizada pelos sócios Álvaro Araújo Mello e Sílvio Olivo, da Brasil Entrepreneur Business Clinic.
O trabalho foi feito com base em dados de 477 participantes do Programa de Desenvolvimento de Empreendedores (leia ao lado).
Foram entrevistados empreendedores dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Pernambuco e Minas Gerais.
Entre as dez características apresentadas pela pesquisa (veja quadro ao lado), persuasão e rede de contatos foram as qualidades que os entrevistados alcançaram a melhor marca, 64%.
Isso significa que, na média, dos cinco Estados pesquisados, quem está à frente dos negócios usa estratégias para persuadir terceiros, utiliza pessoas-chave para alcançar objetivos, além de manter bom relacionamento comercial.
Segundo os pesquisadores, uma característica com pontuação entre 60% e 70% é considerada "uma boa marca em nível mundial".
"Nós consideramos aceitável um empreendedor com percentuais de até 50%", diz Mello.
Para ele, uma pessoa com boas marcas fará sucesso em qualquer tipo de negócio.
"O ideal seria chegar a 90% ou 100%, mas isso só é possível para um robô ou para um sujeito planejado", afirma Olivo.
Para os pesquisadores, o empreendedor deveria ter características mais equilibradas, com menor diferença entre os percentuais.
Há disparidades significativas entre as marcas atingidas nos vários Estados.
Os entrevistados do Espírito Santo, por exemplo, mostraram o pior desempenho, de 16%, nos itens qualidade e eficiência.
Os índices mais altos foram conquistados por empreendedores de Pernambuco. Eles lideram, com 72%, nas características busca de oportunidades e iniciativas.
Os gaúchos são os campeões em independência e autoconfiança, com 72%. Os mineiros e pernambucanos, em persuasão e rede de contatos, também com 72%.
Para equilibrar o desempenho, o empreendedor brasileiro deve desenvolver as características fracas. Em caso de derrota, a melhor saída é achar um sócio com perfil oposto.
Metodologia
A pesquisa "Características e Perfil do Empreendedor Brasileiro" é a primeira no gênero no país. Foi feita através de questionários e entrevistas.
Participaram os empreendedores que, em 1993 e 1994, fizeram parte dos Programas de Desenvolvimento de Empreendedores.
Os pesquisadores Mello e Olivo usaram as principais características detectadas pelo norte-americano David MacClelland, professor da Universidade de Harvard que, em 1982, aplicou os testes em empreendedores de 34 países.
Na época, o Brasil não participou do levantamento.
A pesquisa brasileira de Mello e Olivo foi selecionada com outros 124 trabalhos acadêmicos para ser apresentada no seminário "Políticas Públicas para o Desenvolvimento de Empreendedores", que aconteceu este mês, na London Business School, Grã-Bretanha.

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