São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Horário nobre da Globo perde público entre 89 e 94 em SP

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Globo completa 30 anos na próxima quarta-feira. Os números do Ibope dizem que não há razão para festa, embora a rede continue líder inconteste de audiência.
Três dos programas que compõem o horário nobre da emissora (19h às 22h30) estão perdendo telespectadores no mercado mais importante do país: a Grande São Paulo.
Entre 1989 e 1994, a audiência média do "Jornal Nacional" despencou 25%. No mesmo período, as novelas das sete e das oito sofreram queda de 18,3% e 20,6% respectivamente. Nunca, em tão pouco tempo, o trio amargou tamanhas baixas.
A Folha levantou os dados, inéditos, nos relatórios que o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) fornece todos os meses às agências de publicidade e emissoras de televisão.
A análise mais detalhada de apenas um dos três programas dá bem a dimensão da crise. Em 1989, o "Jornal Nacional" -que a Globo exibe diariamente às 20h- registrava audiência média de 60 pontos. No ano passado, o índice caiu para 45. Desapareceram 15 pontos em meia década.
O Ibope calcula que cada ponto corresponde a 39.790 domicílios na Grande São Paulo. Conclui-se, portanto, que aproximadamente 600 mil residências deixaram de sintonizar o "Jornal Nacional".
As novelas das 19h e das 20h30 também contabilizavam audiências em torno dos 60 pontos no fim da década passada. Cinco anos depois, estavam pelo menos 11 degraus abaixo (veja quadro).
O problema assume proporções ainda maiores quando se considera que os três programas tiveram papel fundamental na consolidação da Globo como a maior rede do país.
Foi em 1968 que Walter Clark, então diretor da emissora, decidiu exibir um telejornal entre duas novelas.
A fórmula pretendia neutralizar a forte concorrência que Tupi, Record e Excelsior exerciam sobre a Globo no Estado de São Paulo.
À época, as novelas duravam 30 minutos. Clark escalou a primeira para as 19h e a outra para as 20h. Ambas "ensanduichavam" o jornal que o locutor Hilton Gomes apresentava às 19h30 -e que só ganhou o nome de "Nacional" em setembro de 1969.
O arranjo funcionou rapidamente. Esperando a novela das 20h, o público que assistia a das 19h acabava por reforçar a audiência do jornal.
Os três programas conquistaram, assim, uma legião de espectadores cativos e prestígio no mercado publicitário. Tanto que, até hoje, os intervalos comerciais do "JN" e da novela das oito são os mais caros da Globo.
Um anúncio de 30 segundos no "Jornal Nacional" chega a custar R$ 50.113,53. Na novela das oito, pode sair por R$ 46.026,96.
O SBT, vice-líder de audiência, pratica preços bem menores. Quem quiser inserir um anúncio de 30 segundos nos dois intervalos mais caros da emissora (às 16h e 20h de domingo) pagará entre R$ 22.821 e R$ 28.227.
Os relatórios apontam que o declínio do "JN" e das duas novelas começou em 1991. De lá para cá, Cultura, SBT e Bandeirantes abocanharam boa parte do público que abandonou a Globo.
"As emissoras por assinatura não tiveram influência no processo", afirma Flávio Ferrari, diretor comercial do Ibope. "Somente 2% dos domicílios com televisão em São Paulo recebem canais pagos. É um universo muito pequeno para representar ameaça às grandes redes."

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