São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 1995
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Feijão nordestino ganha terreno em SP

VALMIR DENARDIN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAPELA DO ALTO

Cultura típica do sertão nordestino, o feijão de corda vingou na terra fértil e úmida do interior do Estado de São Paulo.
O município de Capela do Alto (132 km a oeste de São Paulo) colhe anualmente 1.400 toneladas do produto e responde por 70% da produção do Estado.
O feijão de corda difere das variedades comuns de feijão porque suas plantas crescem mais e as ramas -parecidas com cordões- chegam a se arrastar pelo chão.
Além disto, as vagens do feijão de corda são colhidas ainda verdes.
Ingrediente fundamental no preparo de pratos da culinária nordestina, como o virado (angu com farinha de milho ou de mandioca) de feijão verde ou o arrumadinho (feijão verde com carne seca), o feijão de corda encontrou mercado fácil em São Paulo.
Toda a produção de Capela do Alto é vendida na capital paulista, que tem uma grande concentração de migrantes do Nordeste.
Segundo o engenheiro agrônomo Paulo Bottini, 36, da Casa da Agricultura de Capela do Alto, a cultura foi introduzida no município no início da década de 80.
"Os agricultores daqui, que entregam produtos em São Paulo, receberam sementes dos comerciantes do Ceasa e resolveram experimentar", afirmou Bottini.
A experiência deu tão certo que atualmente 70 agricultores do município -sem tradição no plantio de feijão- cultivam hoje cerca de 350 hectares com o produto (área equivalente a dois parques do Ibirapuera).
"A demanda em São Paulo é muito grande devido à comunidade nordestina da cidade", diz Bottini.
Segundo o técnico, o feijão de corda é uma boa alternativa para os pequenos agricultores. Sua produtividade é de 4.000 quilos por hectare, três vezes maior do que a das variedades mais comuns.
O preço também compensa. Uma saca de 60 quilos de feijão comum custa R$ 35,00, enquanto a saca de 25 quilos do feijão de corda é vendida por R$ 25,00.
Bottini acredita no entanto que o feijão de corda se tornaria inviável para grandes produtores.
"A colheita é manual e a cada safra colhe-se pelo menos três vezes na mesma área", afirma.
Outro fator que limita o cultivo do feijão de corda é a distância dos centros consumidores.
"Como é colhido verde, ele tem que ser consumido em até dois dias, senão mofa", disse o produtor Elzário Corrêa Cleto, 60.
Os produtores de Capela do Alto plantam, no máximo, dez hectares por ano com o produto.
O feijão de corda se adapta bem em terras arenosas.
É uma planta rústica e resistente, mas muito prejudicada se houver chuva em excesso, principalmente na época de floração.
O plantio se dá em duas épocas: entre agosto e setembro, dezembro e fevereiro.
A colheita começa 90 dias após o plantio.
A cada colheita são feitas pelo menos três apanhas (colheitas), com intervalo de uma semana entre elas.
A colheita emprega principalmente mulheres e adolescentes.
Entre 150 e 200 pessoas trabalham a cada safra nas lavouras de Capela do Alto.
Com pouco mais de 11 mil habitantes, Capela do Alto encontrou na diversificação da agricultura sua principal fonte de riqueza.
A cidade é uma grande produtora de milho verde, melancia e mandioca.
Capela do Alto também se tornou o principal centro de comercialização de milho verde de São Paulo.

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