São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
A antena parabólica e o inglês do presidente
BARBARA GANCIA
O que importa mesmo é nosso presidente ter desfilado um inglês impecável (e nem tão impecável assim, diga-se) aos ouvidos "Família Buscapé" de seus anfitriões. O presidente Fernando Henrique fez o maior sucesso em Washington. É mero detalhe o fato de ele ter reforçado a imagem do Brasil como país destoante das economias emergentes, que continua querendo distinguir entre capitais desejáveis e não desejáveis ao berço esplêndido. Conta mesmo é a bolsa Fullbright, ganha no passado por Fernando Henrique, ter mais prestígio do que a bolsa que levou Bill Clinton à universidade de Oxford, na Inglaterra, como "Rhodes scholar". Sei, sei. Somos mesmo um país de complexados pé-de-china. Nos gabamos de Fernando Henrique não ter ido de chapéu na mão pedir esmolas ao governo norte-americano. Nossos analistas políticos se esbaldam em comparações. "A erudição de nosso presidente dá de dez na sólida escolaridade de Bill Clinton", parecem gabar-se. Mas ninguém se envergonha de Fernando Henrique não ter apresentado, em sua brilhosa visita, sequer uma proposta concreta aos parceiros do norte. O governo fundamentalista islâmico do Irã acaba de proibir a antena parabólica. Isso equivale a tentar impor, de um só golpe, a cegueira e a surdez a um país inteiro. Os curativos que vem sendo aplicados no eleitoreiro Plano Real, na forma de medidas para conter o consumo, lembram a proibição iraniana da antena parabólica. Continuamos fechados ao mundo, como sempre estivemos. Dificilmente só o inglês impecável (e nem tão impecável assim) do presidente dará jeito nessa triste realidade. Texto Anterior: O que é a coordenadoria Próximo Texto: Santo cabresto; Excitante; Exorcismo Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |