São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 1995
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Filhas de cinco cineastas invadem o set de filmagem

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Freud talvez tivesse duas ou três coisas a dizer sobre isto: as filhas de cinco cineastas brasileiros de primeiro time -Joaquim Pedro de Andrade, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor, Luís Sérgio Person e Jorge Bodansky- resolveram seguir a profissão (a sina?) do pai.
Todas já mostraram que são do ramo. Alice Andrade, 30, e Laís Bodansky, 25, tiveram seus curtas-metragens premiados no último Festival de Brasília.
"Dente por Dente", "comédia odontológica" de Alice, ganhou os prêmios de direção e roteiro na categoria 16 mm e já foi vendido para TVs da França, Espanha e Finlândia.
"Cartão Vermelho", de Laís, conquistou o prêmio da crítica para curtas de 35 mm. Antes disso, ela já tinha vencido em 1992 o concurso Cinemania, da TV Manchete, com o vídeo "Desliga Esse Troço", e ficado entre os cinco selecionados no 2º Festival do Minuto (1994), com "Biabae".
Marina Person, 26, que fez assistência de direção para os filmes mais recentes de Carlos Reichenbach ("Alma Corsária") e Luís Alberto Pereira ("Efeito Ilha"), está começando a produção de seu primeiro curta em 35 mm, "Almoço Executivo", em parceria com Jorge Espírito Santo.
O roteiro escrito pelos dois ganhou o Prêmio Estímulo do governo do Estado de São Paulo (R$ 24 mil). É uma crônica urbana, descrevendo o caos que acontece numa praça de São Paulo quando um carro importado estaciona em local proibido diante de um restaurante.
Isabel Diegues, 25, que prepara em Salvador a produção do próximo filme de seu pai, "Tieta", trabalha com cinema desde 1987. Já foi assistente de diretores como Ivan Cardoso, Walter Avancini e Carlos Alberto Prates -além de Cacá Diegues, é claro.
Atualmente ela escreve dois roteiros de curtas: uma adaptação do conto "Soroco, Sua Mãe, Sua Filha", de Guimarães Rosa, e um "panorama da juventude carioca".
A mais nova dessa turma, Carolina Jabor, 21, ganhou aos 17, com o vídeo "José Francisco", o prêmio de revelação do Festival do Minuto de 1991. Nunca tinha segurado uma câmera antes.
Seu trabalho mais recente foi o de assistente de direção do média-metragem "Primeiro Pecado", de Arthur Fontes, uma das cinco adaptações de contos de "A Vida Como Ela É", de Nelson Rodrigues, que a Conspiração Filmes produziu para a TV.
Fuga impossível
Como o Édipo da tragédia grega, algumas delas até que tentaram fugir de seu destino.
Carolina Jabor começou a estudar desenho industrial na PUC-RJ (trancou matrícula), Marina Person entrou em Ciências Sociais na PUC-SP (nunca cursou), Alice Andrade fazia teatro (trabalhou com o Circo Voador).
"Eu achava cinema muito chato. Demorava muito para filmar, repetia cada cena muitas vezes", diz Alice. Quando tinha 19 anos, porém, um amigo convidou-a para trabalhar na produção de "A Floresta das Esmeraldas", que John Boorman filmaria na Amazônia.
Ela foi e nunca mais se livrou do cinema. Foi assistente de direção de Walter Lima Jr. ("Ele, o Boto") e Murilo Salles ("Faca de Dois Gumes"). Fez dois documentários para TV: "Luna de Miel", sobre casamentos em Cuba, para o Channel 4 inglês, e "Dois Portugueses em Paris" para a emissora franco-alemã Arte.
Hoje, morando em Paris com o cineasta francês Olivier Horn, prepara-se para dar à luz seu primeiro filho. Em seguida, se o bebê deixar, deverá ser assistente de Pascal Bonitzer em "Encore".
Só Isabel Diegues e Laís Bodansky parecem ter pensado desde sempre em fazer cinema.
"Muita gente enfrenta o preconceito de que não dá para sobreviver fazendo cinema. Eu não enfrentei. Meus pais nunca se opuseram", diz Laís.
E Isabel Diegues tem uma explicação irrefutável para seguir o ofício do pai: "É normal que filho de médico seja médico, filho de músico seja músico etc. Quando uma pessoa que você ama se apaixona por alguma coisa, é natural que você se apaixone também".
Irrefutável, mas nem tanto: ela poderia ter tentado seguir os passos da mãe, a cantora Nara Leão.

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