São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MARKETING EMBALA DESEJOS DE MODA DOS ITALIANOS

COSTANZA PASCOLATO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Milão quer Nova York como aliada para combater Paris. Primeira etapa dos lançamentos do prêt-à-porter de luxo, Milão tem mais importância no cenário internacional do que prestígio.
Hoje sabe-se que o que for lançado em Milão será confirmado em Nova York: são idéias comerciais, fáceis de entender. E as tendências apoiadas pela força do marketing das duas cidades (e principalmente pela poderosa imprensa ianque), são as que vão prevalecer.
Com roupas bem-feitas e elegantes, Milão não existe por si só. Precisa dos EUA. E vice-versa, pois a Itália é a primeira a se expor, mostrando a que veio um mês antes dos desfiles de NY.
Para a Itália, os EUA representam não somente um grande mercado, mas também um mercado de prestígio. E suas polpudas verbas publicitárias são investidas generosamente nos importantes veículos americanos.
Nada mais normal, portanto, do que as grandes grifes italianas (Gucci, Genny, Versace, Armani, Prada) tenham chamado estilistas e produtores de moda americanos para ajudá-las a "sentir o pulso" do que pode ser um "desejo de moda" ou um produto comercial (com dignidade) para um público urbano americano sofisticado.
Nesta temporada fica claro que as poucas tendências que prevalecem são o novo refinamento com toque retrô (Versace, Dolce e Gabbana, Gucci, Jil Sander, Prada) dos anos 60/70, retomados nos EUA por gigantes como Calvin Klein, Ralph Lauren e DKNY (segunda marca de Donna Karan e maior faturamento).
Os "vanguardistas" americanos Marc Jacobs e Anna Sui, por sua vez, investem tudo no espírito "mod" (de "modern"), revisão atualizado dos trajes populares nos anos 60, período do início da Beatlemania, de Mary Quant e do sucesso da londrina Carnaby Street.
Coisa que já vinha sendo feita por Versace, D&G (marca jovem de Dolce e Gabbana) e Gucci (desenhada pelo americano Tom Ford).
O melhor de Milão
A marca cult Prada alcança novas dimensões. Está mais clean, refinada e tecno-sóbria do que nunca.
Hypes: tafetás de náilon e seda pura mais armados; cintura baixa nos vestidos; comprimento pelo joelho; pregas-macho sem vinco nas saias ligeiramente evasée; torso alongado e fino nos vestidos e paletós (curtos e longos).
As estampas: no fundo claro, manchas tipo dálmata e ingênuos microbotões de rosa. Sapatos: mocassins de salto baixo e fino (4 cm), bico pontudo em verniz.
Dolce & Gabbana confirma o retrô 60, desta vez refinado pela técnica imitada de Dior e Balenciaga. Glamour e sensualidade na valorização do busto, cintura e ancas nos tailleurs e vestidos com casaquinho versão sexy de Jackie Kennedy. Cores: preto, branco, vermelho, carne. Atenção para o revival dos mantôs em vison falso.
Versace, o rei do kitsch anos 90, está discreto! A sensualidade continua presente, desta vez menos escancarada e mais sutil.
Os anos de profissão aparecem quando faz um tailleur em tweed de lã sem nenhum enfeite, com saia pelo joelho, bem cortadérrimo. Faz sempre pensar em sedução, longe de teatralismos.
Armani faz seu famoso paletó mais feminino. O estilista que revolucionou o traje masculino na segunda metade do nosso século aprendeu a refinar a androginia. Hoje descobre a nova mulher. De ombros marcados, seios valorizados (novidade) cintura e ancas destacadas, suas estruturas reconhecidamente disfarçam defeitos da silhueta, conferindo-lhe "bom tom" imediato. Desta vez, também sensualidade.
Jil Sander, alemã, lançou-se em Milão e faz o estilo executiva chique. Mal comparando, tornou-se a Armani dos 90, com roupas que revelam obsessiva procura da melhor qualidade.
Seu lema é "Less is More" (menos é mais), e mesmo a preços astronômicos, tem seu séquito de admiradores.
Gucci corre quase como outsider, pois a consumidora da marca não está claramente definida. Faz sucesso na mídia internacional pela interpretação do estilo "mod". Casacos 7/8 justos e de grandes lapelas, blusas em cetim cor fluorescente, lã mohair contrastando com vinil e couro stretch. Os acessórios são luxuosos e as belas botas vêm pontudas, com sabor de "Swinging Sixties".

Texto Anterior: TENDÊNCIAS SE DIVIDEM ENTRE TECNO E RETRÔ
Próximo Texto: HITS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.