São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995
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Sem Ayrton, fãs sentem um vazio na alma

HERBERT VIANNA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando uma temporada de Fórmula 1 começa de forma melancólica, como esta de 95, algumas memórias insistem em voltar e nos lembrar que já houve época em que o resultado era decidido na pista e mesmo os mais fanáticos não sabiam o nome do presidente da FIA ou da Foca...
As mais intensas e bem documentadas lembranças são, obviamente, do nosso querido Senna. Ayrton foi revelado numa época em que, através da mídia eletrônica, pudemos viver com muito mais intensidade nossa paixão pelo automobilismo.
Um mito paradoxal, em que o competidor feroz, o místico espiritualista, o frio homem de negócios e o generoso doador para obras de caridade conviviam e desafiavam a compreensão do mundo.
Para nós, brasileiros, nunca houve dúvida: Senna, o nosso herói, era o único capaz de vencer as limitações de um automóvel ou da meteorologia, uma pessoa da família, o maior piloto que já houve.
Para os estrangeiros, especialmente os ingleses, um enigma difícil de aceitar. Com seus três títulos (que certamente seriam quatro, caso valesse o resultado na pista em 89), com recordes sem paralelo em categorias inferiores, Ayrton foi preterido pelos ingleses como o melhor de todos os tempos em favor do britânico Stirling Moss, que nunca venceu um campeonato mundial.
Um ano depois de sua morte, permanece na alma de seus fãs o vazio e a dor de sua ausência. Nesse aniversário de seu desaparecimento, seria ainda prematuro e injusto buscar esperança de alegria em seus sucessores brasileiros. E eis que surge, entre barrichelos, christians, ferrans, ribeiros, gugelmins e boesels, aquele que muitos fãs de Senna nem sequer viram correr na F-1 e levanta um bandeira brasileira no lugar mais alto do pódio pela primeira vez desde aquele fatídico 1º de maio.
No último domingo, em Nazareth, o grande Emerson Fittipaldi venceu de forma magistral. Após a corrida, as lágrimas caíam e a voz do velho campeão quase não saía, ao dedicar a vitória a Senna.
Quando começava na F-1 e tomou para si a responsabilidade de vencer em Watikins Glen (EUA), para garantir o campeonato "post-mortem" a seu companheiro, o lendário Jochen Rindt, também as lágrimas vieram e lhe faltou a voz. Emerson tinha então vinte e poucos anos. Hoje, sabe que provavelmente é o único que pode dar alegria a torcedores que, aos domingos, só sentem tristeza.
Foi a 22ª vitória de Emerson na Indy. E ele certamente está preparado para nos dar muitas mais. Até que um dia (quem sabe um dia de chuva) algum garoto obstinado chegue a um kartódromo (quem sabe Interlagos), pinte um número no kart (quem sabe o 42) e o destino o eleja para cumprir a mesma trajetória que levou alguns brasileiros à glória em um esporte que aprendemos a amar. Neste dia, Emerson lhe dará as luvas e sorrirá, porque a roda da alegria estará girando de novo. Obrigado, grande Emmo! Que saudade, Ayrton!

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