São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
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Trabalho de figurinistas une moda e cinema

JACKSON ARAÚJO.
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quando o cinema ainda dava seus primeiros passos, as próprias atrizes providenciavam os figurinos, alugando ou comprando roupas em lojas de artigos para teatro.
Os loucos anos 20 passaram e no final da década, todo estúdio de peso tinha um qualificado departamento de figurino. Mas foi somente a partir de 1948 que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood premia com o Oscar o melhor figurino, inserindo no hall da fama figurinistas como Edith Mead (leia abaixo), Cecil Beaton e Walter Orry-Kelly.
Até 1966 eram concedidos dois prêmios: um para filme preto-e-branco e outro para filme colorido. Na categoria preto-e-branco, Walter Orry-Kelly recebeu o Oscar em 59 por "Quando Mais Quente Melhor". Para Marilyn Monroe, Orry-Kelly elaborou uma coleção de vestidos tão transparentes que obrigou o diretor Billy Wilder a suavizar a luz.
Famoso desde os anos 30 por seus trabalhos de fotografia em cenários artificiais de espelhos, celofane e tecidos prateados amassados, Beaton começou a trabalhar como figurinista de cinema, teatro e ópera após a Segunda Guerra.
Seu figurino mais conhecido é o de "My Fair Lady", em que vestiu Audrey Hepburn com parte do seu tesouro particular de roupas e acessórios coletados através dos anos em museus e brechós.
Entre os figurinos mais polêmicos premiados pela Academia estão os trajes de Elizabeth Taylor em "Cleópatra" (63). Elaborados por Irene Sharaff e Vittorio Nino Novarese, o figurino chamou atenção por se preocupar muito mais em relacionar o Antigo Egito com o momento fashion dos anos 60 do que em elaborar trajes fiéis à época.
Em "Cleópatra", Sharaff veste Taylor com uma roupa diferente a cada cena, perucas douradas e maquiagem verde nos olhos delineados como gatinho -tendência 60.
Ousadia sempre foi a marca registrada de Sharaff. Ganhou seu primeiro Oscar com "West Side Story" (Amor Sublime Amor), em 61, quando vestiu os bailarinos do elenco em calças jeans elásticas -precursora do "flexijeans".
Quem também fez o caminho da tela para a moda foi Phyllis Dalton, com Dr. Jivago. Os modelos viraram coqueluche no inverno nova-ioquino de 65/66 e, em Paris, foram copiados pela maison Dior.
Milena Canonero fez cópias exatas de roupas do século 18 para o premiado figurino de "Barry Lyndon". Durante 18 meses, Canonero vasculhou bibliotecas, museus e brechós, obtendo muitos dos acessórios através de anúncios em jornal. O resultado lhe valeu um Oscar em 75, repetido em 81 com "Carruagens de Fogo".
Com esta mesma fidelidade, James Acheson montou "O Último Imperador" (Oscar em 87), tendo como assistentes cerca de cem estudantes chineses de arte. Nas grandiosas cenas de multidão, Acheson vestiu 300 figurantes como soldados da Guarda Vermelha.
No ano seguinte, outro Oscar, desta vez por "Ligações Perigosas". Logo na primeira cena, Acheson mostra as armas do duelo vivido por Glenn Close e Malkovich: corseletes, perucas, pó-de-arroz, meias de seda e brocados.
No ano passado, a sofisticação sóbria dos anos 40 de Anna Sheppard para "A Lista de Schindler" mereceu atenção dos críticos de moda por seu minucioso trabalho de pesquisa. Para vestir 18 mil figurantes, Sheppard colocou anúncios nos jornais poloneses pedindo que as pessoas vendessem peças da época. Perdeu para previsível estilo rococó de "A Época da Inocência", de Gabrielle Pescucci, confirmando a tendência hollywoodiana de premiar figurinos mais exuberantes. Este ano, para não fugir a regra, quem levou o prêmio foram as divertidas drag queens de "Priscilla, Rainha do Deserto" (leia texto abaixo)
Disponíveis em vídeo:
"Quanto Mais Quente Melhor" (Warner), "Cleópatra" (Abril Vídeo/Fox), "Amor Sublime Amor" ("West Side Story") (Warner), "Quem Medo Tem Medo de Virginia Woolf?" (Warner), "Dr. Jivago" (Play Arte), "Carruagens de Fogo" ("Chariots Of Fire") (Abril Vídeo/Fox), "O Último Imperador" ("The Last Emperor") (LK-Tel Vídeo/Columbia), "Ligações Perigosas" ("Dangerous Liaisons") (Warner), "Priscilla, Rainha do Deserto" ("The Adventures of Priscilla, The Queen of The Desert") (Playarte)

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