São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atentado levou Oklahoma aos mapas-múndi

The Independent
De Londres

PHIL DAVISON

Sem qualquer vestígio de humor negro, os habitantes de Oklahoma acreditam que o atentado a bomba cometido em sua capital colocou seu Estado no mapa.
Há mais de meio século Oklahoma transmite a imagem do Estado da Grande Depressão e das tempestades de poeira. A tragédia do edifício Alfred Murrah representa uma virada nesta percepção.
Jornalistas e voluntários para ajudar nos resgates vindos de outras partes do país, muitos dos quais achavam que Oklahoma era um musical ou que ainda era território de caubóis, se surpreenderam diante da organização da busca e do calor humano da população atingida pela tragédia.
O atentado significa o fim da era da inocência num Estado onde ataques terroristas eram inconcebíveis. Um aviso de "preste atenção em sua bagagem" veiculado no aeroporto provocou surpresa entre os habitantes de Oklahoma City e simbolizou o grande salto para a nova realidade que estão vivendo.
Oklahoma fica no coração do chamado Cinturão Bíblico. Seus habitantes são religiosos e já estão voltando a atenção às "bênçãos" que, segundo acreditam, a tragédia trouxe em seu bojo.
Devido à força da explosão nenhum sobrevivente foi encontrado depois das 22h da primeira noite, mas eles não perderam as esperanças enquanto havia a possibilidade de restarem pessoas vivas no local.
Utilizaram cães farejadores e retiraram os escombros pedaço por pedaço, passando-os de mão em mão por uma cadeia humana.
Muitas pessoas enfrentaram filas para doar sangue. Filas quilométricas de carros se formaram para doar desde joelheiras até Vick para os bombeiros esfregarem nos lábios superiores e disfarçar o odor dos corpos em decomposição.
Um morador, ao ouvir que os cães farejadores precisavam de "sapatos" porque estavam cortando as patas andando sobre os cacos de vidro, passou horas telefonando para o Alasca até contatar um fabricante de "sapatos" para cães.
O fabricante doou os "sapatos" e companhias aéreas os levaram de graça. "Os texanos têm uma imagem própria, que alimentam", disse uma locutora da rádio local. "Mas nós éramos ambíguos, não sabíamos quem éramos. Agora encontramos uma imagem própria".
Desde a Grande Depressão e a grande migração para oeste na década de 30 os "okies" não sentiam tanta unidade e solidariedade. Camisetas com os dizeres "Tenho orgulho de ser okie" esgotaram.
Comparando a tragédia com o assassinato de John Kennedy ou com a explosão do ônibus espacial Challenger, em 1986, Robert E. Lee, colunista do "Daily Oklahoman", escreveu: "Para todos os habitantes de Oklahoma o dia 19 de abril passou a ser o ponto de referência. Tudo será lembrado como 'antes' ou 'depois' desse dia".
Contaminada pela dignidade dos habitantes locais, a mídia mundial se comportou melhor do que de costume. A maioria dos jornalistas obedeceu um acordo de não invadir a privacidade das famílias reunidas numa igreja à espera de notícias de seus entes queridos.

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: ENTENDA A ELEIÇÃO
Próximo Texto: Imagem de imigrante é mito
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.