São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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Tenha medo

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Fadiga, dor de cabeça, problemas sexuais e brotoejas. Esses os sintosmas de uma certa "síndrome da Guerra do Golfo", que teria acometido combatentes americanos depois do conflito contra Sadam Husseim, entre eles, Timothy McVeigh, principal suspeito da explosão do prédio em Oklahoma, com centenas de mortos.
Segundo o jornal "The Buffalo News", o rapaz voltou "diferente" do deserto, onde saiu-se bem, tendo sido condecorado e promovido a sargento. Mas McVeigh não é assim tão "diferente" de um certo padrão de delírio norte-americano.
Pense no consagrdíssimo estereótipo encarnado por Silvester Stallone em Rambo: estamos diante de uma máquina de matar, que voltou "diferente" do Vietnã. Revoltado com o mundo, a começar por seu próprio país.
No primeiro filme, ele enfrenta a Polícia e a Guarda Nacional, explode objetivos americanos e mata compatriotas sem a menor cerimônia.
Rambo não dinamita criancinhas e acaba se redimindo no resgate de americanos mantidos como prisioneiros no Vietnã. É Hollywood.
McVeigh é realidade. Se está articulado ou não a uma organização, a tal da Milícia de Michigan, não faz muita diferença -a não ser do ponto de vista operacional. Ideologicamente, o que se tem é uma confusão mental, provavelmente agravada pela perda da referência do grande inimigo russo.
McVeigh é a face monstruosa de um país onde democracia e respeito aos direitos convivem com uma sociedade armada e guerreira.
Mas o fato de o caso de Oklahoma ser uma tragédia com a marca da América, não o transforma num fenômeno isolado -a coincidência com os atentados a gás no Japão não é apenas cronológica. Um novo tipo de terrorismo vai se desenhando na paisagem desordenada da Nova Ordem Mundial.
E como diz Robert Wright na revista "The New Rebuplic" você deve mesmo ficar com medo. Num longo artigo, intitulado "Be very afraid", ele chama a atenção para a perda de controle no campo dos artefatos nucleares e biológicos -uma das facetas do grande problema que é (como você pode ler nas reportagens dessas páginas) o submundo do crime organizado internacional.
Em tom irônico, Wright inicia assim seu artigo: "Já que você assimilou a idéia de uma apocalíptico seita new-age com representantes em três continentes que estoca toneladas de gases e tenta cultivar toxinas bacteriológicas que causam botulismo, o resto da história é boa notícia".
"Em vez de centenas de mortos em três continentes, tivemos onze mortos em um. Um final feliz".

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