São Paulo, segunda-feira, 1 de maio de 1995 |
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Reforma da Constituição redefine sindicalismo
CRISTIANE PERINI LUCCHESI
Sindicatos abandonam centrais e outros buscam filiação. Há até quem articule uma nova central. A Força Sindical, por exemplo, vive crise com racha iminente. Desde o último congresso, em 93, a discussão sobre o monopólio do petróleo e das telecomunicações vem deixando insatisfeitos. Na época, para conciliar diferenças internas, foi aprovada a ``flexibilização" dos monopólios. Hoje o presidente da Força Sindical, Luiz Antônio de Medeiros, e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, da direção executiva, defendem explicitamente a privatização dos setores do petróleo e telecomunicação. Com isso, o Sindicato dos Telefônicos de São Paulo, que defende o monopólio, vê como inevitável seu desligamento da central. Nos sindicatos de metalúrgicos de Guarulhos e Osasco há dirigentes descontentes com a Força Sindical, à qual são filiados. O presidente do sindicato de Guarulhos, Francisco Cardoso Filho, defende o monopólio dos dois setores e pode ser um dos integrantes de uma nova central que está sendo articulada pela CAT (Coordenação Autônoma de Trabalhadores), da qual é diretor. As denúncias do ex-assessor de Medeiros Wagner Cinchetto aprofundaram a crise na Força. Cinchetto denunciou um esquema paralelo de Medeiros para arrecadar dinheiro junto a empresários. ``Se as denúncias não forem apuradas, vai ter debandada geral, inclusive minha", diz José Avelino Pereira, o Chinelo, da direção executiva da Força Sindical. Enilson Simões de Moura, o Alemão, secretário-geral da Força Sindical, e Lúcio Bellentani, também da executiva da Força Sindical, mostram descontentamento. ``O que não pode continuar acontecendo é só uma parte da direção da Força Sindical tomar decisões", diz Bellentani. Alemão diz que não quer, no congresso de 96, continuar secretário-geral da central. ``Eu não tenho mais compromisso com esse modelo de sindicalismo". Paulinho responde: ``Essa turma da direção que está chiando perdeu representatividade e dificilmente estará na próxima executiva da Força, que não será mais composta com base em amizades." A CUT aproveita para negociar com os descontentes da Força Sindical. ``Conheço o Chinelo e o Bellentani, que são muito respeitáveis. Com o Alemão, ainda não tive contato pessoal", afirma Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT. A CUT apóia o monopólio em petróleo e comunicações e prepara greve para o dia 3 nesses setores. Mas nessas reformas, diferente do que ocorreu em 94, a CUT tem propostas e não se coloca simplesmente ``contra". Assim, ganha aliados em setores amplos. A média de filiações é de 15 sindicatos por mês, sem ``baixas". A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), com 3.200 sindicatos rurais, acaba de decidir pela filiação à central. ``Só os grupos radicais impedem a ida de sindicatos da Força para a CUT", diz Cinchetto. Mas essas correntes mais à esquerda do que a Articulação Sindical, de Vicentinho, estão com suas vozes hoje minimizadas na CUT. Por exemplo, Vicentinho vai defender, em reunião da direção esta semana, a entrada da CUT em um grupo interministerial do governo para elaborar proposta conjunta para a Previdência. José Maria, presidente do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, antiga Convergência Socialista) e da executiva da CUT, acha que isso só deveria acontecer se o governo retirasse sua proposta do Congresso. Mas Vicentinho deve aprovar sua proposta na direção da CUT. E quem diria que é hoje a CUT, e não a Força Sindical, a central que vai levar ao presidente Fernando Henrique Cardoso, em conjunto com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), documento em defesa das reformas tributária, fiscal e nas relações trabalhistas? Texto Anterior: Brasil tem 1º de Maio há cem anos Próximo Texto: CUT e Força fazem manifestações hoje Índice |
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