São Paulo, segunda-feira, 1 de maio de 1995
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Astrônomos contestam a existência de matéria escura

KEN CROSWELL
DA ``NEW SCIENTIST"

É possível que o Universo não tenha matéria escura, afinal. Em lugar disso, segundo astrônomos nos EUA e em Israel, talvez contenha quatro vezes mais matéria comum do que se pensava.
Matéria escura recebe este nome porque não pode ser "detectada por telescópios, mas existe em teoria para explicar a expansão do Universo. Sem ela, o Universo poderia estar se expandindo muito mais rapidamente.
Para os cientistas, a atração gravitacional desta matéria comum já seria suficiente para explicar o movimento de estrelas e galáxias.
Os cosmólogos estimam a quantidade de matéria comum, ou ``bariônica", existente no Universo, medindo as quantidades dos elementos criados nos primeiros minutos posteriores ao ``big bang" -a gigantesca explosão que teria dado origem ao Universo.
A velocidade das reações que forjaram esses elementos dependeu da densidade da matéria bariônica presente. Assim, as quantidades destes elementos revelam quanta matéria bariônica existe.
Os principais produtos do ``big bang' foram hidrogênio-1 e hélio-4, além de quantidades menores de deutério (hidrogênio-2), hélio-3 e lítio-7.
As quantidades desses elementos sugerem que o Universo possui relativamente pouca matéria bariônica -menos de 6% da massa necessária para fazer com que pare para sempre de se expandir.
Mas o Universo deve conter muito mais matéria do que isso, de modo que os cosmólogos foram obrigados a inventar vários tipos de matéria escura ``não-bariônica", composta de exóticas partículas, para explicar o equilíbrio.
Dimitar Sasselov, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica em Cambridge, Massachusetts (EUA), e Dalia Goldwirth, da Universidade de Tel Aviv (Israel), acabam de produzir uma explicação que descarta a matéria exótica.
Eles dizem que é possível que os astrônomos tenham subestimado a quantidade de hélio-4.
Esta medida é crucial, porque quanto mais hélio-4 tiver sido formado nos primórdios do Universo, maior deve ser a quantidade de matéria bariônica existente.
É difícil medir a quantidade de hélio. Para isso, é preciso examinar a radiação liberada por átomos de hélio agitados no gás que circunda estrelas muito quentes.
Para encontrar presença forte de hélio, os astrônomos procuram nas regiões do espaço que contêm hidrogênio carregado eletricamente -sinal certeiro de que existem estrelas quentes nas redondezas.
Astrônomos precisam procurá-las nas galáxias minúsculas, que têm poucas estrelas.
A partir dessas galáxias, os astrônomos estimaram que o hélio-4 compunha 23% da massa do Universo original. Essa abundância implica que a quantidade de matéria bariônica no Universo é relativamente pequena.
Mas Sasselov e Goldwirth, que publicam o estudo na ``Astrophysical Journal Letters", afirmam que os cálculos usados para converter os dados de observações numa cifra que indique quantidade de hélio-4 são excessivamente simplistas.
Eles agora aplicaram modelos mais sofisticados de como os átomos de hidrogênio e hélio emitem radiação, e dizem que o hélio-4 pode haver constituído até 25,5% da massa do Universo primordial.
Se a abundância primordial de hélio-4 fosse tão grande quanto Sasselov e Goldwirth afirmam que pode haver sido, a massa da matéria bariônica do Universo seria mais de três vezes superior à estimativa atual, ou seja, cerca de 20% da massa necessária para parar a expansão do Universo.

Tradução de Clara Allain

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