São Paulo, terça-feira, 2 de maio de 1995 |
 |
|
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Mostra revê imagens do cinema na cidade
NELSON BRISSAC PEIXOTO
Pode-se argumentar que esta cidade tem um rosto menos recortado, mais complexo e fragmentado. Ou que a afirmação supõe um vínculo direto entre as imagens e a cidade, olhar que o cinema contemporâneo não tem. Mas o enigma de São Paulo sempre atraiu os cineastas: estão aí os filmes de Walter Hugo Khouri, Rogério Sganzerla, Wilson Barros e Carlos Reichenbach para mostrar isso. É que não são simples as relações entre as imagens e a alma dos lugares. Na exposição ``São Paulo em Cenas", projeto da Folha e do Banco Nacional, que abre hoje no Espaço Banco Nacional de Cinema, a questão é levada ainda mais longe: pede-se a 23 fotógrafos da empresa Folha da Manhã S.A. que olhem a cidade através de cenas do cinema. Uma situação instigante: como a fotografia vai reler o retrato que o cinema fez da cidade? Uma visão muito diferente da imagem que o próprio fotojornalismo fez de São Paulo. Fazer fotógrafos, habituados ao corpo-a-corpo com a cidade, trabalharem com o olhar mediado por outras imagens, com o imaginário já criado pelo cinema. Um outro tipo de fotojornalismo, mais carregado de referências culturais, poderia estar sendo gestado? Aos fotógrafos foi pedido trabalhar a partir de cenas de filmes -que deveriam revisitar. Mas a fotografia retira do contexto um instante do real para guardá-lo, suscetível a todas as suposições. O que acontecia àquelas figuras surpreendidas pelos ``street-photographers"? A fotografia guardará para sempre o mistério. Aqui, ao contrário, a fotografia tem de partir de imagens devedoras da ficção, que só o cinema é capaz de fazer da cidade. Somos localizados entre o real e o imaginário, entre o acontecimento da cidade e o imaginário que o cinema construiu dela. Os fotógrafos vão ter esta ficção de cidade como referência. Às vezes para contrapô-la ao real, como na foto de Roberto Delduque, que volta ao cortiço de ``Anjos da Noite" para, numa brutal desglamourização do filme, mostrar uma velha em frente de um cartaz de uma menina de olhos vazados. Outras vezes, ao contrário, para radicalizar a mediação cinematográfica do real, como o bailado na avenida Paulista, do mesmo filme, retomado numa imagem solarizada, quase gráfica, pela foto de Éder Medeiros. Ou os reflexos em vitrines de ``O Bandido da Luz Vermelha", transformados numa colagem na foto de Adi Leite. As revisitações ao Monumento às Bandeiras em ``A Sogra" (foto de Eduardo Knapp) e ao Museu do Ipiranga em ``Destino em Apuros" (foto de Ana Ottoni) trazem esses lugares revistos pela iluminação e colorização, segundo procedimentos contemporâneos. Várias técnicas são incorporadas: manipulação por computador, cópia xerox, colagem, montagem, solarização. A foto de Fabiano Ramos, por outro lado, mostra um Parque D. Pedro abandonado, quase uma várzea, em imagens meio descoloridas, como no filme ``Fragmentos da Vida". É Carlos Reichenbach, não por acaso, um dos cineastas mais responsáveis pela imagem que temos de São Paulo, que suscita o maior número de citações. Na foto de Evelson de Freitas (ao lado), podemos prever um desdobramento da trama que não ocorreu em ``Alma Corsária". Mas é numa colagem hockneyriana, de Antonio Gaudério, a partir de cena de ``City Life", que a fotografia mais se aproxima do cinema. Uma sucessão de fragmentos do Pátio do Colégio, tomados de ângulos distintos, introduz o tempo na imagem fotográfica. Homenagem à cidade e ao cinema. Filmes O Espaço Banco Nacional de Cinema promove ainda, hoje, no evento São Paulo em Cenas, a pré-estréia dos médias-metragens ``São Paulo - Sinfonia e Cacofonia", de Jean-Claude Bernardet, e ``São Paulo - Cinemacidade", de Aloysio Raulino. O filme de Bernardet entra em cartaz no anexo do Espaço Banco Nacional no dia 5. O de Raolino, no dia 12. Exposição: São Paulo em Cenas Projeto cultural: Folha de S. Paulo e Banco Nacional Concepção: Celso Fioravante Coordenação: Eduardo Simantob Coordenação fotográfica: Adi Leite Onde: Espaço Banco Nacional de Cinema e Anexo (r. Augusta, 1.475 e 1.470, tel. 011/288-6780) Quando: hoje, as 20h30, abertura para convidados; aberta ao público de amanhã a 15 de junho Apoios: Fapesp, Cinemateca Brasileira e ECA-USP Patrocínio: Max 35 Filmes Texto Anterior: Só o vencedor pode ser generoso Próximo Texto: Ciclo mostra erotismo em 39 filmes no Rio Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |