São Paulo, terça-feira, 2 de maio de 1995
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Throwing Muses fazem rock doce e otimista

BIA ABRAMO
DA REPORTAGEM LOCAL

Kristin Hersh, a líder, compositora, letrista e guitarrista da banda Throwing Muses, pode ser considerada uma veterana da cena independente norte-americana. A banda surgiu na mesma cidade e período de onde saíram os Pixies: Boston, meio dos anos 80.
Dez anos depois, as Throwing Muses -Hersh, David Narcizo (bateria) e Bernard Georges (baixo)- lançam seu sétimo disco com o mesmo entusiasmo do primeiro (veja quadro ao lado). ``University", pronto desde 94, esperou um ano até ser lançado, esperando Kristin divulgar seu disco solo, ``Hips and Makers".
Kristin falou à Folha por telefone do Estado da Geórgia (sul dos EUA), no meio da turnê norte-americana de lançamento de ``University".

Folha - Você lançou um disco solo com canções acústicas no ano passado, ``Hips and Makers". É o primeiro de muitos?
Kristin Hersh - Sim, esse disco me abriu um caminho para trabalhar com canções acústicas. Sempre que eu tiver uma boa quantidade de material acústico, vou gravar outro disco desse tipo. Mas eu tenho que ter cuidado porque o lançamento do disco segurou a banda por um ano.
Folha - The Throwing Muses surgiu nos anos 80, na cena das ``college bands" de Boston. Você acha que essa cena se esgotou ou ainda vão surgir bandas?
Kristin - As palavras ``alternativo" e ``independente" parecem traduzir o estilo, a atitude da música de hoje. O problema é que há muitas bandas ruins adotando o som, mas sem nenhuma relação real com a atitude. Depois do fenômeno Nirvana -eles realmente foram os nossos Beatles-, finalmente nós pudemos fazer o tipo de música que sempre fizemos e começaram a tocar esse tipo de som no rádio. E isso incentiva novas bandas, boas ou ruins.
Folha - Por outro lado, ``University" parece ser o mais doce, mais pop dos discos das Throwing Muses...
Kristin - Eu também acho que ``University" é realmente doce, e isso o torna mais acessível. É um disco muito otimista. Foi divertido gravá-lo, a banda ficou toda numa mansão em New Orleans. Nós ficávamos todos juntos compondo para o disco, era como uma família...
Se você não se diverte quando está gravando, se há tensão, o disco não sai tão bom. E se você se diverte, o disco traduz essa felicidade. Não acho que um disco que tenha essa tipo de felicidade seja necessariamente pop, mas foi o que aconteceu com ``University".
Quando percebemos, tínhamos uma boa quantidade do que se pode chamar de canções pop, como ``Bright Yellow Gun", e elas combinavam com o lado mais rock'n'roll da banda.
Folha - As letras desse disco também apresentam essa espécie de dupla natureza: ora trazem imagens delicadas, quase etéreas, ora se valem de afirmativas mais diretas...
Kristin - É verdade, olhando com uma certa distância, mas eu tento não pensar em nada quando escrevo uma letra. E não é nada fácil. Eu só tento deixar um processo acontecer e utilizo imagens que surgem. De fato, muitas imagens, sobretudo nas letras deste disco, ficaram parecidas com sonhos. Eu tentei deixá-las com uma certa espessura de sonho. Mas eu nunca uso meus próprios sonhos -estes eu guardo para mim.
Folha - Hoje em dia, há várias bandas de mulheres ou lideradas por mulheres, Throwing Muses inclusive. Você acha que mulheres trazem algum elemento diferente para o rock?
Kristin - Não, isso é bobagem. Virou uma espécie de moda ter pelo menos uma mulher na banda, mas as mulheres estão no rock há muito tempo.

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