São Paulo, quarta-feira, 3 de maio de 1995
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Souza Cruz vai produzir cigarros em Cuba

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

A Souza Cruz vai começar a produzir em janeiro, em Havana, capital de Cuba, cigarros das marcas Continental, de propriedade da empresa, e Popular, da cubana Uneta (União de Empresas de Tabaco).
Para isso, foi criada a Brascuba Cigarrillos S.A., que pertence à Uneta e à Yolanda Participações, a última criada pela Souza Cruz.
Os investimentos iniciais são de US$ 10 milhões divididos entre os dois sócios.
Pela primeira vez a Souza Cruz é responsável direta por uma fábrica de cigarros fora do país.
A escolha da Souza Cruz para fechar o negócio se deveu ``à proximidade diplomática de Cuba e Brasil", segundo o diretor financeiro da empresa, Milton Cabral.
Além do investimento inicial, a Souza Cruz vai gastar mais US$ 850 mil na produção do fumo tipo Virgínia, especial para a fabricação de cigarros.
Cabral disse que os técnicos cubanos dominam a plantação do Virgínia, mas precisam de mais insumos (material e dinheiro) para que haja fumo em quantidade suficiente para a fábrica. Em princípio, o fumo será brasileiro.
O negócio, no início, tem outras limitações. Como em Cuba é proibida a troca de peso cubano por dólar, a Brascuba vai operar nas cerca de 500 lojas em que se negocia com dólar (conhecido por mercado doméstico de divisas).
``Não é um mercado muito grande", diz Cabral, avaliando em 200 milhões de cigarros por ano a serem consumidos pelos cubanos. Mas a Souza Cruz vê mais longe.
``Cuba já teve um consumo anual por habitante de 2.300 cigarros por ano", diz Cabral. Atualmente, segundo ele, o consumo per capita caiu para 1.300 cigarros/ano. No Brasil, não chega a mil. A população do país é de 10,5 milhões de pessoas.
``Teremos um período de aprendizado com as leis e o gosto dos cubanos", diz Cabral, que acredita na abertura econômica do país.
No início, diz, vai haver adaptação dos trabalhadores cubanos, pouco acostumados, segundo o executivo, a se pautar por metas de qualidade e produtividade.
``Podemos ter problemas com os métodos de trabalho", disse Cabral, para quem o trabalhador cubano terá ``incentivos à produtividade e qualidade" como nas fábricas da BAT no resto do mundo.
Ele diz que, quando puder investir no mercado nacional como um todo, a empresa levará vantagem de ter-se instalado no país antes das futuras concorrentes.
O cigarro Popular, que é fabricado pelos cubanos, deve ter sua embalagem modificada, mas com muito cuidado. ``Os cubanos adoram a marca, a embalagem e o cigarro.".
O sabor do Continental também deve ser alterado para mais forte, aproximando-se do cigarro que era fabricado na década de 60 no Brasil. Hoje, o Continental brasileiro é parecido com o Hollywood.
Depois das longas negociações com o governo cubano, o contrato foi fechado dia 20 de abril, quando o presidente da Souza Cruz, Antônio Monteiro de Castro, encontrou-se com o presidente cubano, Fidel Castro.
O presidente cubano disse depois do encontro que ficava feliz de Cuba fazer negócios com um ``tocayo" -xará, em espanhol.

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