São Paulo, sexta-feira, 5 de maio de 1995
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Presidente busca recursos externos

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O presidente Fernando Henrique Cardoso desembarca hoje em Londres para desempenhar dois papéis bem diferentes.
Um é o de figurante secundário, como o país que preside, nas festas do cinquentenário da vitória aliada na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Tão secundário que a bandeira brasileira nem sequer estava hasteada até a tarde de ontem no pavilhão montado no Hyde Park, um dos mais célebres cartões postais de Londres e cenário das principais cerimônias oficiais.
O segundo papel é o de vendedor de oportunidades de investimento no Brasil, motivo pelo qual, após desembarcar, às 13h30 (9h30 em Brasília), reúne-se com os presidentes dos bancos Midland (17h) e Rotschild (17h30).
No dia seguinte, sábado, às 9h30 (5h30 em Brasília), a conversa é com o primeiro-ministro inglês, John Major, na primeira vez em que um presidente brasileiro eleito democraticamente entra no famoso número 10 de Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro britânico.
Antes, Juscelino Kubitschek (56-61) e Fernando Collor (90-92) estiveram na residência do premiê, mas como presidentes eleitos apenas. E, em 1976, foi a vez de Ernesto Geisel, que não foi eleito democraticamente.
O momento para ``vender" o Brasil aos ingleses não poderia ser mais apropriado.
O jornal ``Financial Times", uma espécie de bíblia dos homens de negócio em toda a Europa, informava em sua edição de ontem sobre a abertura ao capital externo do setor de mineração e eletricidade e sobre a quebra do monopólio do gás.
Outra bíblia do empresariado, a revista ``The Economist", circula desde a semana passada com encarte especial sobre o Brasil, com um enfoque sugestivo, o de que o Brasil pode ser visto como um copo, ou meio cheio ou meio vazio, conforme a ótica de cada qual.
Mas a revista faz enorme esforço para demonstrar que FHC é o homem certo para encher o que resta do copo.

Campanha
O próprio governo britânico está interessado no Brasil. O Departamento de Comércio e Indústria, equivalente a um ministério, lançou campanha sob o slogan ``Ligação com a América Latina, seu próximo grande mercado".
A campanha tem o apoio da poderosa CBI (Confederação da Indústria Britânica), um conglomerado de 255 mil empresas.
Objetivo, em relação ao Brasil, especificamente: duplicar a balança comercial (exportações e importações), hoje fincada em US$ 2,2 bilhões, com saldo favorável ao Brasil (exportou em 94 US$ 1,47 bilhão e importou US$ 800 milhões).
O embaixador brasileiro em Londres, Rubens Barbosa, diz que só este ano foram anunciados investimentos diretos britânicos no Brasil no valor de cerca de US$ 300 milhões.
No ano passado, Major enviou oito ministros ao Brasil e o Reino Unido recebeu cinco ministros brasileiros.
É muito provável que Fernando Henrique queira tratar com Major da reformulação das instituições financeiras internacionais (o Fundo Monetário e o Banco Mundial), tema que se transformou em ponto prioritário para o presidente brasileiro desde a crise mexicana.
Mas, nesse capítulo, o interlocutor não é o mais indicado. O governo conservador inglês é contra aumentar o capital do FMI para permitir socorro a países em desenvolvimento, vítimas de crises no setor externo, proposta que o ministro brasileiro da Fazenda, Pedro Malan, defendeu nos Estados Unidos.
Fora isso, no entanto, Fernando Henrique vai se sentir em casa, até pelo clima anormalmente quente para o final de primavera.
Ontem, o Hyde Park era um paraíso banhado de sol para as crianças -algumas delas em trajes típicos de seus países- que estavam ensaiando para as festividades do final de semana.

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