São Paulo, sexta-feira, 5 de maio de 1995
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Dente-de-leite antecipa futebol do futuro

ROBERTO PETRI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pela TV Bandeirantes, aos sábados, pela manhã, vai ao ar o Futebol Dente-de-Leite, algo mais que uma simples competição esportiva: trata-se de uma história calcada no puro idealismo de dois jornalistas.
Tudo começou em meio ao ano de 69, ocasião em que se temia pela sorte da seleção brasileira na Copa seguinte. A Federação Paulista de Futebol, então entregue a Mendonça Falcão, decidira acabar com os campeonatos infantis (já com faixa adulterada para 14 a 16 anos). Neste espaço, usando a expressão oriunda do Rio de Janeiro, apareceu o ``dente-de-leite". Foi proposto a Cassiano Gabus Mendes, saudoso diretor artístico da TV Tupi, a promoção de um torneio revolucionário, alterando as, até então, intocáveis regras de jogo, reunindo meninos na faixa menor, dos 12 aos 14 anos. Instituiu-se, no regulamento, a obrigatoriedade do documento escolar (daí o slogan ``Craque na bola - craque na escola") para ganhar condição legal de jogo.
Obtido o aval da direção do canal televisivo (ao qual pertenciam na época os jornalistas), contando, ainda, com as colaborações de Sergio Baklanos e José Astolphi, saiu-se para o primeiro certame, cujo sucesso foi extraordinário, culminando com a superlotação do estádio da Comendador Souza, na final, Nacional 1 x 0 São Paulo, em março de 1970.
Num período em que os campos de várzea rareavam, no qual o número de meninos de rua já era crescente, renovou-se a ilusão do garoto pobre brasileiro: o sonho de ser um craque quando crescesse.
Depois de cinco anos de êxitos em promoções, houve um declínio e, já em 79, o programa estava fora do ar.
Longos anos se passaram até que o sempre empreendedor Luciano do Valle resolvesse se associar à idéia. Aberto espaço na telinha, eis que ressurgiu a promoção. Três mini-torneios ocorreram em 94 e, agora, a partir de 1º de abril, um novo Campeonato Paulista da categoria vem se realizando, em Vinhedo, no estádio que leva o nome de Roberto Rivellino. São 16 clubes, os principais da capital e do interior, experimentando novas alterações nas regras.
O lateral é cobrado com o pé. Não se permitem barreiras nas cobranças de faltas. Impedimento só dentro da linha demarcatória (ela se estende da área às laterais do campo). Dois árbitros, um em cada metade do campo, mais dois bandeirinhas, dirigem as partidas. Permaneceu, como nos primórdios, o escanteio curto (quando cedido dentro das linhas de área, é cobrado da junção da linha de fundo com a de grande área). O cartão vermelho dá lugar ao azul (ninguém é expulso, vale apenas a substituição disciplinar).
A intenção também é diminuir o número de crianças desocupadas pelas ruas. Além da simultânea orientação no sentido de que não se abandonem os bancos escolares, mesmo que sejam de cursos profissionalizantes, já que ínfima minoria chegará às equipes principais. Um trabalho didático. Vale a pena conferir. Quem sabe não seja a antecipação do futebol do próximo século?

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