São Paulo, sábado, 6 de maio de 1995
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Mato-grossense muda para SP para esperar um coração

"Ainda tenho esperança de ver meu Araguaia", diz.

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde julho do ano passado, o corretor de imóveis José Máximo Chaves, 48, espera que seu bip toque. Há dez meses ele é um dos pacientes da fila do Instituto do Coração (Incor) que aguarda por um doador.
Chaves deixou Barra do Garças (MT), onde vivia com a mulher e dois filhos adolescentes, e se instalou no apartamento de um amigo na zona sul da capital.
``Troquei as barrancas do rio Araguaia pela esperança de um coração", diz. Chaves não sentia nada até três anos atrás, quando sofreu um infarto. Os médicos constataram que sofria de cardiopatia crônica -um inchaço do coração. Iniciou um tratamento, melhorou, mas meses depois sofreu um derrame.
Agora, segundo os médicos, o transplante é a única saída.
``Passo os dias na beira do telefone esperando um chamado do hospital", diz. Em março, o bip tocou: ``Comparecer ao Incor", dizia. ``Fui feliz, já me sentia de coração novo. Mas era apenas o médico chamando para exames."
Chaves se diz cheio de esperanças. ``Se você pode salvar alguém, por que não doar?", costuma dizer, tentando convencer as pessoas a fazerem suas carteirinhas de doador. ``Chumbo trocado não dói", ele diz, repetindo um ditado do mato-grossense.
O cotidiano de Chaves se reduz hoje a algumas horas lendo e vendo TV. ``Faço meu almoço e estou aqui inútil." Um deputado seu amigo disse que a Câmara Federal deve aprovar um decreto tornando a doação de órgãos obrigatória. ``Só me falta um coração. Ainda tenho esperança de ver meu Araguaia", ele diz.
(AB)

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