São Paulo, sábado, 6 de maio de 1995
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Humphiries celebra sofisticação da house

CAMILO ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

No mundo fast forward da dance music existem poucas lendas. São Paulo tem hoje chance de conferir uma delas: o DJ nova-iorquino Tony Humphries, 38 anos, 14 deles por trás dos toca-discos.
A revista especializada em dance music ``DJ Sound" traz Humphries para tocar na festa do seu quarto aniversário, na Toco. Nos últimos dois dias, Humphries passou também pelo Clube Latino e do Dr. Smith, no Rio.
Humphries é peça-chave na formação de um dos estilos fundamentais da dance music moderna: o garage, caracterizado por melodia, sofisticação harmônica e forte herança disco-soul. No início dos anos 80 esteve no comando do som do lendário clube Zanzibar, em Newark, Nova Jérsei. O local, junto com o Paradise Garage inspirou o surgimento do garage.
Em entrevista exclusiva em São Paulo, anteontem, Humphries explica o surgimento do garage, revelando que o termo nasceu de um equívoco.
``Garage music' era um termo usado para definir a música que tocava no Paradise Garage. Lá se ouvia de tudo, Herbie Hancock, Talking Heads, B-52's, The Clash -que eram estouros na pista. Mas como a maioria das coisas seguia uma linha entre disco e soul da Filadélfia, cheia de vocais, garage acabou sendo usado para classificar esse tipo de música. Na verdade, `garage music' era algo que não se podia categorizar."
Hoje em dia as coisas mudaram de figura. A dance music é um labirinto de categorias (chegando a extremos detalhistas como hard trance, dark garage, Detroit tecno, happy house) e cada vez mais DJs se dão por contentes por ficar presos a apenas algumas delas.
``Acho que há muitas barreiras na dance music atualmente", diz Humphries. ``Há categorias e rótulos demais. Acho que dá para colocar discos com muito soul, com vocais e coisas bem rápidas e esquisitas sem nenhum problema. Por que não? É chato quando só se fica tocando discos numa mesma velocidade, sem variação."
Sobre a famosa cisão tecno/garage que marcou as pistas do mundo de alguns anos para cá, de Londres a São Paulo, Humphries parece não dar muita bola.
``Depende do que você curte. Me parece que quem vai a um clube para escapar pelas drogas vai a um clube mais tecno e trance. Se você quer escapar pela música, você vai a clubes mais garage e house. O clima é como se você fosse a uma festa com amigos."
Humphries começou sua trajetória de DJ ainda na faculdade. Seu currículo hoje inclui centenas de remixes (Adeva, Soul II Soul, Queen Latifah, Deee-Lite, Sugarcubes, Gabrielle -atualmente anda longe dos estúdios), um programa semanal de sucesso na Kiss FM de Nova York (que acaba de deixar para uma rádio concorrente) e discotecagem para pistas em todo o mundo. Incluindo aí uma residência no renomado Ministry Of Sound, de Londres.
O que seria mais importante, então? A técnica do DJ ou a seleção musical?
``Ambos. Hoje em dia se coloca muita ênfase na mixagem, mas o que muita gente precisa perceber é que na hora que se chega em casa você lembra das músicas que foram tocadas e não se certa mixagem ficou boa".
``Não quero encher a pista de vocais porque não quero ser óbvio nem quero só tocar instrumental. Não quero mandar todas as mulheres para casa e, em meus 14 anos de experiência, sei que as mulheres adoram músicas com vocais. Quero que todo mundo saia feliz."

Evento: DJ Sounds Awards 94
Quando: Hoje, a partir de 23h
Onde: Toco (r. Dona Matilde, 509, Vila Matilde, zona leste, tel. 293 0424. Ingressos: R$ 6,00 e R$ 8,00

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