São Paulo, sábado, 6 de maio de 1995
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Mau sinal em má hora

Veio em má hora a negociação pela qual o governo aceitou que as montadoras subissem os preços dos carros. Ainda que o impacto dessa majoração sobre o custo de vida e os índices de inflação seja pequeno, seu efeito sobre as expectativas é certamente negativo.
A indústria está vendendo muito bem e o setor automobilístico é sabidamente um dos mais vigorosos da economia. O aumento dos carros nacionais vem pouco tempo depois da subida das tarifas externas. O que passa a impressão de que o setor está se aproveitando da elevação das alíquotas de importação de automóveis para elevar suas margens de lucro.
Trata-se de um setor claramente oligopolizado, no qual poucas empresas controlam o mercado e assim impedem que o bom funcionamento dos mecanismos de concorrência pressione os preços para baixo. Quando as montadoras se põem de acordo e fazem aumentos gerais e simultâneos, o consumidor não tem escolha: paga mais ou não compra, pois o mercado de usados tende a acompanhar o dos novos.
A redução das tarifas externas, entre outras medidas, vinha sendo utilizada para combater esse tipo de distorção. O déficit na balança comercial e a crise que abalou o México mostraram, entretanto, os riscos de manter tal política. Limitado o alcance do combate à inflação pela competição externa, ainda não está claro como se evitará que os setores com poder de mercado voltem a indexar seus preços. O acordo foi um mau sinal.
As majorações nos preços dos carros, ademais, têm grande visibilidade e ocorrem justamente quando se aproxima uma oportunidade de desindexar a economia. No próximo mês, com as últimas correções salariais obrigatoriamente baseadas no IPC-r, chegam ao fim os reajustes previstos desde a implementação do Plano Real.
Ao sancionar de certo modo a elevação dos preços dos automóveis, o governo colocou-se em posição mais frágil para negociar o fim da indexação com outros setores da sociedade. Sob todos os aspectos, o aumento veio em momento inoportuno.

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