São Paulo, sábado, 6 de maio de 1995
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O partido deve ser alternativa

JOSÉ GENOINO

Duas razões me levam a defender a tese de que o PT deve propor alternativas às propostas do governo na reforma da Constituição.
A primeira diz respeito à responsabilidade que o partido deve ter com a sociedade e à forma de agir na oposição. Quanto à responsabilidade, é evidente que o Brasil precisa de reformas no campo econômico, social e político.
As reformas são necessárias para ampliar a democracia e a cidadania e para modernizar a economia visando a melhoria das condições de vida do povo e a distribuição de renda.
Se um partido político persegue com sinceridade a justiça social, não pode aceitar as injustiças, os privilégios e as ineficiências sacramentadas na Constituição Federal.
Manter a Previdência como está, por exemplo, significa perpetuar a degradação da grande massa de aposentados, manter privilégios para uma minoria e apostar na falência do sistema.
Na questão tributária, o país tem hoje um dos sistemas mais perversos e regressivos, que, por taxar pouco o capital e muito o consumo, torna-se fonte de concentração de renda e de injustiça.
Coerente com sua história de luta pela justiça e para manter de pé a bandeira da transformação da sociedade, o PT já decidiu que vai propor mudanças nessas duas áreas. Na ordem econômica, para se opor à proposta do governo de flexibilização dos monopólios que abre as portas para uma privatização sem critérios, o PT deveria apresentar uma proposta de parceria com a iniciativa privada, com regras claras, que garantissem investimentos em áreas carentes e a fiscalização do poder público.
Na reforma política e do Estado, o PT deve apresentar uma agenda de democratização das instituições e recusar-se a participar do jogo das acomodações eleitorais proposto pelo PFL.
Quanto ao comportamento do PT como oposição ao governo FHC, a tarefa principal do partido deve consistir em operar positivamente no Congresso e na sociedade, apresentando alternativas e construindo-se como alternativa.
Somente dessa forma o partido poderá evitar o isolamento, atrair alianças e enfrentar o rolo-compressor do PFL, que quer galvanizar desde já um bloco de forças para suceder o presidente FHC e consolidar uma hegemonia neoliberal-conservadora.
A segunda razão que me leva a defender que o PT apresente alternativas refere-se ao próprio sentido da existência de um partido de esquerda. Somente através de uma postura reformadora é possível transformar democraticamente a sociedade.
A bandeira das reformas sempre foi uma bandeira das esquerdas. Infelizmente, no Brasil, essa bandeira hoje está na mão do centro e da direita que, em nome da necessidade de mudanças, propõem reformas conservadoras.
A esquerda corre o risco de ser tachada de defensora do status quo. Assumir a bandeira das reformas, para o PT, representa apresentar políticas para a maioria do povo, principalmente para os excluídos.
O corporativismo, numa sociedade democrática, tem sua legitimidade. Mas um partido político deve saber mediar os interesses corporativos, submetendo-os aos interesses e direitos mais universais da sociedade, evitando assim tornar-se porta-voz exclusivo de minorias que já têm direitos consolidados.

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