São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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O segundo azar do PC

JANIO DE FREITAS

Mais ameaçadora para PC Farias do que a prisão em Buenos Aires do seu sócio Jorge Bandeira foi, também nesta semana, outro acontecimento também geograficamente distante, mas também perigosamente próximo dos seus segredos financeiros. Trata-se do indiciamento e prisão, em Nova York, dos responsáveis por um golpe contra vários grandes bancos, em negócios com títulos da dívida externa brasileira.
Nos inquéritos sobre as atividades de PC Farias foram colhidos indícios, confirmando informações publicadas, de operações suas com títulos da dívida brasileira. A investigação esbarrou em dificuldades e não chegou a comprovações conclusivas. A oportunidade para alcançá-las aparece agora, com as investigações da Justiça americana e do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) em torno do golpe.
Os dois principais golpistas, todos agindo contra os bancos em que trabalharam, são o brasileiro Jezler, que montou a corretora Tandem, e o argentino Carlo Abadi. Se o governo brasileiro quiser e a Polícia Federal entrosar-se com os investigadores americanos, para que haja a verificação das operações de Abadi também ao tempo do governo Collor, vão surgir revelações interessantes: Abadi gabou-se naquele tempo, em conversa com brasileiros do sistema financeiro daqui, de ser nada menos do que o corretor de PC Farias.
O golpe chefiado por Jezler e Abadi consistia em três compassos. No primeiro, os golpistas vendiam, a preço muito abaixo das cotações de mercado, títulos de dívida externa possuídos pelos bancos em que eles próprios tinham altos cargos. No segundo, arranjavam novos compradores para os mesmos títulos, porém com o preço de mercado. No terceiro, dividiam os lucros com os compradores-comparsas, os da primeira operação.
Não é provável que Jorge Bandeira confesse alguma coisa útil, mas o aprofundamento das investigações, em Nova York, encontrará até os nomes de mais brasileiros. Por certo período, negócios com títulos da dívida multiplicaram fortunas, por aqui, de uma semana para outra.

Subterrâneo
O estudo da ação de José Milton Dallari, secretário de acompanhamento de preços, revelaria, mais do que qualquer outro, os subterrâneos da administração central brasileira. E não só neste governo, como em anteriores, os quais o próprio Dallari, Dorothéa Werneck e outros tiveram o mesmo papel.
É sempre um jogo igual. Quando um setor empresarial fala em aumento, o Dallari de hoje ou de ontem dá entrevista dizendo que vai convocar os representantes do setor para conversar, porque o governo não admite o aumento. Feito o encontro, confirma-se o aumento. Mais do que isso: o aumento é maior do que o reivindicado publicamente. E justificado pelo próprio representante do governo.
Os jornais, da semana passada ao começo desta, registraram o percentual de 12% do aumento pretendido pelas fábricas de automóveis. E a resposta do Dallari atual: ``De maneira nenhuma; vou chamá-los para conversar". A conversa foi na quinta-feira. Com o resultado de sempre: os 12% pedidos subiram para 15% na média, em dois aumentos sucessivos de 7,5% cada. Ou seja, as fábricas e suas concessionárias receberam mais um quarto do que pretendiam.
E Dallari ainda justificou: ``O último aumento dos carros foi em junho do ano passado e a inflação acumulada é de 30%". Claro que é mentira. Além do aumento dos carros ``populares", decorrente da elevação do imposto mas maior do que ela, no começo deste ano houve aumento de preço. Sem contar o ágio que o governo deveria punir, se respeitasse a lei, mas protege.

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