São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Real empurra empresas à produção

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A origem dos lucros da indústria mudou drasticamente com o Plano Real. Produzir e vender se tornou melhor negócio do que aplicar no mercado financeiro, onde o juro ainda continua alto.
Neste novo cenário, as indústrias voltaram a apostar nos investimentos produtivos e a fazer apologias à produção.
Sem os altos rendimentos que a inflação proporcionava, ruiu a estratégia empresarial de multiplicar o resultado no mercado financeiro.
Tornou-se necessário aumentar as vendas e, por tabela, o mercado. Se as empresas tinham como meta produzir para poucos a preços altos, o real as forçou a massificar e a vender mais.
Ao mesmo tempo em que o Banco Central se desdobra com medidas para frear a economia, a indústria passou a insistir que tem condições de produzir mais e atender os novos consumidores que brotaram desde o Plano Real.
Mas a guerra do governo contra o consumo aquecido deve continuar deixando de fora do mercado boa parte dos 90 milhões de brasileiros que ganham menos do que R$ 300,00 por mês.
O discurso empresarial do momento garante que é possível desde já colocar o Brasil em um novo patamar de produção, aumentar os investimentos e expandir o mercado de consumo.
Mas o Plano Real também mostrou que o país não estaria estável se dependesse apenas da indústria nacional.
Nos primeiros nove meses do plano, o país sustentou artificialmente o consumo importando US$ 11,6 bilhões a mais.
Boa parte do crescimento das vendas continuou concentrado no extrato da população que ganha mais.
Segundo estudo da universidade britânica de Cambridge obtido pela Folha, o Brasil tem hoje a maior concentração de pessoas pobres da América Latina.
Comparando as camadas com menor e maior rendimento, o país tem 32 pobres para cada pessoa considerada rica.

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Sobre consumo e produção à pág. 2-4

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