São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Contrato coletivo arquiva CLT e Constituição

DENISE CHRISPIM MARIN
DA REPORTAGEM LOCAL

A medida provisória que estabelece a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas é um sinal de que o governo está preparando empregados e empregadores para o contrato coletivo de trabalho.
Essa é a opinião de Sérgio Amad Costa, 37, sócio da Trevisan Auditores. No próximo dia 22, o assunto será tema de um amplo debate em São Paulo -o 1º Encontro Nacional Sobre Contrato Coletivo de Trabalho.
Idéia colocada em discussão no país em 1993 pelo ex-ministro do Trabalho Walter Barelli, o contrato coletivo de trabalho prevê a livre e direta negociação entre patrões e empregados de todos os seus direitos e deveres.
A proposta, entretanto, depende de mudanças radicais. Segundo Amad, o texto da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) iria para o fundo do arquivo.
Os artigos da CLT que definem regras trabalhistas, como a jornada de trabalho, seriam eliminados. O papel da Justiça do Trabalho e dos sindicatos passaria por reformas.
Segundo Amad Costa, cerca de 50% da população economicamente ativa do país trabalha sem registro na carteira do trabalho por causa da rigidez da atual legislação.
A flexibilidade do contrato coletivo, para ele, permitiria a diminuição desse contingente informal, a reabertura de postos de trabalho encerrados pelas empresas e a elevação dos salários. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - A idéia do contrato coletivo de trabalho foi colocada em debate há um ano e meio. Por que não foi levada adiante?
Sérgio Amad Costa - Quando a idéia foi lançada, muitos ficaram em dúvida se o contrato coletivo viria para atrapalhar ou para colaborar com as relações entre capital e trabalho no país.
Faltou esclarecimento para empresas, trabalhadores e entidades. Outro motivo foi o fato de que o contrato coletivo exigiria a alteração na legislação trabalhista.
Folha - Como poderia ser definido o contrato coletivo?
Amad Costa - O contrato coletivo é algo extremamente moderno, adotado por países com capitalismo avançado, como Estados Unidos, Japão, Alemanha, Itália.
Mas para ser um instrumento de flexibilização das relações entre capital e trabalho no Brasil, teremos que alterar instrumentos que regem a vida trabalhista.
Folha - A CLT teria que ser extinta?
Amad Costa - Sim. A Constituição também teria que ser alterada, porque traz princípios trabalhistas. O que caracteriza o contrato coletivo é a capacidade de negociação empregado-empregador. Aumenta muito o poder de negociação. Hoje, os resultados dos conflitos já estão na CLT.
Folha - O contrato coletivo significa que tudo pode ser negociado -de jornada de trabalho a benefícios?
Amad Costa - Ele vai garantir a negociação dos direitos e deveres.
Folha - Cada empresa vai ter sua própria legislação?
Amad Costa - O contrato pode ser definido a nível estadual, interestadual ou por empresa.
Folha - Como difere do sistema atual?
Amad Costa - Podemos avaliar o sistema atual como estatutário. Existem muitas leis trabalhistas. Na Constituição há definição de jornada, de auxílio-maternidade etc. É um absurdo. Isso não é matéria para Constituição.
Hoje, a CLT determina tudo. A maioria dos direitos está garantida na lei. No contrato coletivo há pouca legislação. A maior parte das leis surge do documento assinado por empregados e empregadores, que pode ser revisto.
Folha - Seria adequado implantar o contrato coletivo hoje?
Amad Costa - Para ele ser positivo, é preciso eliminar a CLT, mexer na Constituição e até no papel da Justiça do Trabalho.
Folha - O número de reclamações trabalhistas é alto. Com o contrato coletivo não é possível que as empresas aumentem o grau de exigência do trabalhador e descumpram seus deveres para com ele?
Amad - Há uma ilusão no que diz respeito à proteção que as leis dão ao trabalhador. A legislação brasileira é extremamente ampla e rígida. Embora protetora, causa o desamparo para a maioria dos trabalhadores do país.
Cerca de 50% da população economicamente ativa trabalha na informalidade, sem registro na carteira. Esse contingente está aumentando devido principalmente à rigidez das leis trabalhistas. O empregador tem tantas obrigações para com o empregado que não dá conta dos encargos sociais.
Folha - Com regras mais flexíveis, qual a garantia de que as empresas contratariam mais?
Amad Costa - As empresas estão muito enxutas, fizeram reengenharia. Mas também trabalham no sufoco porque não podem ampliar o quadro de pessoal.

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