São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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O misticismo da maior tragédia de Eurípides

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A editora Hucitec está lançando mais uma obra clássica em edição bilíngue. Trata-se de ``Bacas", do tragediógrafo grego Eurípides (480-406 a.C.), considerado, juntamente com Ésquilo (525-546 a.C.), o maior expoente do teatro grego.
Como se sabe, o teatro propriamente dito surge em Atenas no século 5º a.C., com os concursos de tragédias e comédias, chamados ``Grandes Dionisíacas", celebradas no mês de março em honra ao deus do teatro, Dioniso.
Eurípides foi contemporâneo de Sófocles, que invejava seu sucesso. Sófocles só foi reconhecido mais tarde.
E, dentre as peças que nos restam de Eurípides, ``Bacas" (ou ``As Bacantes", como se chamava antigamente) é talvez sua peça mais importante, pois trata-se de uma apologia do teatro e do deus Dioniso.
Como diz Jeanne Roux: ``Toda esta tragédia é uma epifania grandiosa de Dioniso, uma ilustração de seu poder terrível, ora providencial, ora implacável. O poeta empresta às Bacas lídias (da Lídia, região da Ásia Menor, então pertencente ao mundo helênico) para cantar-lhes a fé, acentos de tal sinceridade, que provam que ele mesmo compartilha das crenças místicas delas."
Trata-se do mito do endeusamento de Dioniso (ou Baco), que enlouquece quem não acredita em sua divindade.
Em ``Bacas", Eurípides segue fielmente os padrões do teatro clássico, quanto à forma, estrutura e temática. Gilbert Murray considera ``Bacas" a mais formal peça grega.
O mais original em ``Bacas" é a importância que é dada ao Coro de Bacas da Lídia, guiadas por Dioniso. Na realidade, é o coro quem faz o papel principal e o Prólogo é recitado pelo próprio Dioniso.
A tradução e o estudo introdutório são do professor Jaa Torrano, da cadeira de grego da USP. Ela é fácil e fluente de se ler, não se trata aqui da linguagem hermética de sua edição da ``Teogonia", de Hesíodo (1981), ou de seu ensaio ``Zeus: O Mito do Mundo e o Modo Mítico de Ser no Mundo" (1988).
Nem caberia esse tipo de linguagem em se tratando de Eurípides, pois foi ele um dos primeiros a começar a ``humanizar" os deuses gregos.
Enfim, trata-se de uma edição primorosa da Hucitec, com várias ilustrações, um estudo introdutório e uma boa bibliografia. Indispensável para quem aprecia o teatro, principalmente o teatro clássico.

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