São Paulo, segunda-feira, 8 de maio de 1995
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PC tinha US$ 7 milhões em Miami em 1990

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

Já em setembro de 1990, o empresário alagoano Paulo César Farias era considerado grande investidor pelo Citibank de Miami, onde mantinha aplicações de mais de US$ 7 milhões.
O presidente Fernando Collor tomara posse em março, havia apenas seis meses.
Essas informações sobre a conta em Miami de PC Farias estão contidas em documento do Citibank, obtido pela Folha, sobre o empréstimo feito por PC junto ao banco.
A análise do empréstimo (CA nº 158-90), assinada por Maria José Lotti, vice-presidente do Citibank no Brasil à época, diz o seguinte, no item 5 (garantias): ``Além do código II de Miami, teremos o aval do sr. Paulo César C. Farias. Trata-se de principal acionista da empresa (EPC) e pessoa com grande relacionamento junto ao Private Bank de Miami onde possui aplicações acima de US$ 7MM."
O Private Bank é um departamento do Citibank que cuida de clientes especiais.
Segundo o Ministério Público Federal, esta é a primeira vez que surgem números oficiais sobre as contas no exterior de PC Farias.
Essa conta é conhecida desde a CPI do Collorgate, que investigou o esquema PC e levou ao impeachment de Collor.
Mas nem a comissão parlamentar nem o Ministério Público conseguiram levantar o valor dos depósitos e as movimentações.
O Citibank alegou que não podia fornecer essa informação por se tratar de conta mantida fora do Brasil.
PC Farias nunca declarou ter depósitos desse porte no exterior. Isso constitui crime assimilado a evasão de divisas. A pena prevista vai de dois a cinco anos de prisão.
O empresário, que se encontra preso em Maceió, terá ainda, segundo o Ministério Público, de explicar a fonte desse dinheiro.

Operação fácil
O elevado valor das aplicações de PC no Citibank de Miami (pelo menos US$ 7 milhões) ajudam a explicar a facilidade com que PC obteve a linha de crédito para sua empresa EPC junto ao banco.
A análise do empréstimo informa que foi ``dispensada a análise dos balanços da empresa tendo em vista tratar-se de crédito solicitado pelo Private Bank de Miami, que está dando garantias totais para o risco..., além de se tratar de empresa (EPC) com números inexpressivos".
O documento informa ainda que consulta efetuada em nome da EPC e do seu sócio principal, PC Farias, mostrou diversos protestos. Outro documento fala em 30 protestos. Isso sendo que PC nunca entregou certidão negativa do cartório de Brasília.
Resumindo, o Citibank colocou US$ 5 milhões (posteriormente aumentou a linha para US$ 7 milhões) a disposição da EPC, empresa com vários protestos, números inexpressivos e da qual o banco não conhecia nem os balanços.
Como fonte de repagamento do empréstimo, o documento cita a possibilidade de operação ``Swap In". Isso implicaria no pagamento do empréstimo, contraído no Brasil, através dos recursos depositados em Miami.
(HuSa)

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