São Paulo, segunda-feira, 8 de maio de 1995
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FHC duvida de medidas anticonsumo

CLÓVIS ROSSI ; ROGÉRIO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

ROGÉRIO SIMÕES
O governo não está seguro de que as medidas anticonsumo já tomadas vão de fato provocar uma redução no ritmo de crescimento da economia.
Foi o que admitiu o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista coletiva concedida ontem na embaixada brasileira em Londres, ao encerrar sua visita de três dias à Grã-Bretanha.
O presidente brasileiro participou das comemorações dos 50 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.
``A força da economia brasileira é muito grande. Então, toda vez que o governo tenta colocar o pé no freio, não se sabe realmente qual é o resultado", afirmou FHC.
Por isso mesmo, o presidente abriu a hipótese de mudanças pontuais na economia, ao afirmar: ``Não vejo nuvens pesadas à frente desde que tenhamos um bom radar e que, ao constatar algumas dificuldades, mudemos o curso aqui e ali".
FHC reconheceu também que, se o Brasil mantiver o ritmo de crescimento do primeiro trimestre, ``é claro que vamos ter uma pressão muito grande na balança comercial".
Balança comercial é o resultado das exportações menos as importações e o grande déficit nesse item, registrado pelo México, foi uma das principais causas da crise que eclodiu nesse país em dezembro e espalhou efeitos por vários outros países em desenvolvimento.
A partir daí, o governo brasileiro começou a adotar medidas para evitar déficits comerciais, o primeiro dos quais surgiu em novembro passado. No primeiro trimestre do ano, o déficit acumulado foi de US$ 2,2 bilhões.
Agora, FHC diz que ``já está ocorrendo uma reversão na balança comercial".
É só parcialmente verdade: em abril, o déficit ainda foi elevado (cerca de US$ 400 bilhões), embora menos da metade do resultado de março (déficit de quase US$ 1 bilhão).
O IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, vinculado ao Ministério do Planejamento) acaba de divulgar análise que diz que, mantido o ritmo atual de crescimento, será pouco provável que o Brasil consiga um saldo comercial sólido este ano.
Uma economia em expansão naturalmente demanda mais produtos, tanto de fabricantes internos como dos externos.
A Folha perguntou ao presidente o que ele escolheria, entre uma eventual recessão, para evitar o déficit, ou o déficit.
Resposta (em francês): ``Entre os dois, meu coração balança. Evidentemente, só o coração pode balançar, a cabeça não".
Depois, acrescentou que os indicadores de que o governo dispõe apontam para ``uma redução nessa pressão de crescimento".
Pelas dúvidas, acrescentou que os investimentos diretos continuam crescendo, o que pode permitir o equilíbrio das contas externas este ano.
Ou seja, o país pode ter um déficit na balança comercial, mas superá-lo com a entrada de capitais.
E terminou com uma frase de efeito, depois de manifestar simpatia pelos esforços feitos pelos técnicos do IPEA: ``Previsões em economia são menos acuradas do que previsão do tempo".

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Sobre a viagem de FHC à pág. 1-6

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