São Paulo, terça-feira, 9 de maio de 1995
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Polícia invade favela e mata 14 pessoas

DA SUCURSAL DO RIO

Em ação que, segundo o governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), marcou o endurecimento de seu governo na repressão ao crime, 14 pessoas foram mortas pela polícia ontem pela manhã.
As mortes ocorreram na favela Nova Brasília (no Complexo do Alemão, em Bonsucesso, zona norte). Sete pessoas foram presas e dois policiais ficaram feridos.
Até as 19h, 13 corpos haviam chegado ao IML (Instituto Médico Legal). A maioria apresentava perfurações no tórax e na cabeça.
A operação na favela foi feita por policiais da DRRFCEF (Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos contra Estabelecimentos Financeiros). Há quase sete meses, outra operação policial na Nova Brasília terminou com 13 mortos.
O objetivo da operação seria prender "Wanderley da Nova Brasília", que teria ido à favela alugar armas com ``Marcinho VP", chefe do tráfico na Nova Brasília. Nenhum deles foi preso na operação.
A versão da polícia: as mortes resultaram de troca de tiros entre os policiais e supostos traficantes que negociavam armas e drogas.
A versão dos moradores: na primeira entrada da polícia, houve tiroteio entre policiais e dez homens que estavam em um ponto de venda de drogas. Os homens fugiram e se esconderam em uma casa, onde teriam sido mortos pela polícia.
Um homem que seguia para o trabalho também teria sido morto. Ele não havia sido identificado.
Por volta de 11h, houve outro tiroteio na favela. Atiradores de elite que estavam em dois helicópteros mataram mais três homens.
Segundo a polícia, todos os mortos e detidos ontem são ligados ao tráfico de drogas na favela.
O advogado de ``Marcinho VP" -que pediu sigilo sobre seu nome- confirmou que dez homens mortos na primeira investida da polícia eram ligados ao tráfico e que eles teriam sido assassinados.
Entre eles, estão Alex Fonseca da Costa, 20, Jacques Douglas Rodrigues, 25, além de outros identificados como ``Feijão", ``Chocolate", ``Bigogério", ``Carro-Forte" e ``Hugo".
A polícia voltou à favela à tarde e saiu com dois homens encapuzados, que seriam testemunhas.
Segundo os policiais, foram apreendidas 15 armas, um caderno que teria a contabilidade do tráfico, 1 kg de pasta de coca, cerca de 5 kg de cocaína pura, 2 kg e mais 200 ``trouxinhas" de maconha.
O delegado Mário Azevedo, titular da DRRFCEF, afirmou que "pode ter havido excesso de violência". "Numa operação como essa, não se pode exigir uma conduta britânica dos policiais".
Ele disse que operações como a de ontem vão ocorrer mais vezes. "É a única maneira de combater a criminalidade. Na medida em que eles nos agridem, nós vamos reagir com a mesma intensidade."

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