São Paulo, terça-feira, 9 de maio de 1995
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Esca e Sivam

Já começa a causar inquietação a falta de uma atitude mais firme por parte do governo federal frente à acumulação de críticas, denúncias, informações e contra-informações sobre o Projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
O Brasil tem a tradição dos grandes projetos que se converteram em grandes passivos, financeiros e técnicos (vide usinas atômicas). Sem falar na história comprovada de corrupção e perversão de instituições públicas.
Nunca é demais lembrar os valores que estão em jogo: US$ 1,4 bilhão. E a região: a mesma Amazônia que é alvo de campanhas internacionais e que no passado recente tem sido palco de polêmicas em campos variados que vão da preservação pura e simples do meio ambiente aos debates sobre patentes e biotecnologia, sem falar nos interesses aparentemente menos sofisticados de empresas madeireiras e mineradoras. E sem esquecer da produção e tráfico de drogas.
A importância estratégica, geopolítica, econômica e tecnológica da Amazônia parece até mesmo estimular a formulação de projetos megalomaníacos. Afinal, já está cunhada na memória brasileira a associação entre empreitada faraônica e coisas como a Transamazônica, a estrada de ferro Madeira-Mamoré, a Fordlândia e o projeto Jari.
Em artigo que a Folha publica hoje, o físico Rogério Cézar de Cerqueira Leite acrescenta ao debate um elemento que dá ainda mais complexidade ao tema. Segundo esse especialista, o projeto poderia, mais, deveria ficar a cargo de empresas brasileiras, se necessário em consórcio com estrangeiras. Ou seja, Cerqueira Leite quer que se aproveite a pausa atual, motivada por denúncias, aliás comprovadas, de ilicitudes fiscais por parte da Esca, para repensar o projeto e, em última análise, remontar o Sivam.
Seja como for, é preciso conduzir esse projeto num ambiente de maior transparência e concorrência. Se necessário, até mesmo anulando tudo o que se fez até agora para abrir uma nova licitação aberta a todos, sem distinção de origem.

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