São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mal-amados dominam a Internet, diz dissidente

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Não me acuse de desmancha-prazeres. Logo agora, que os brasileiros começaram a se integrar na Internet, seria covardia anunciar que as redes já eram. Mesmo porque ninguém está dizendo isso nos Estados Unidos.
Mas, como em toda onda, logo surgem os dissidentes. Gente que vai com muita sede ao pote e acaba enjoado.
A turma do contra já atingiu massa crítica. E arrumou um guru em Clifford Stoll, um astrônomo que já foi um dos maiores apaixonados pelas redes. Para você ter uma idéia, ele frequentava uma delas quando a palavra ciberespaço ainda não existia.
Recentemente o tal astrônomo publicou um livro desancando o mundo cibernético.
O título é ``Silicon Snake Oil", uma referência ao vale do Silício, de onde saem as novidades da informática, e ao óleo de cobra, que os camelôs americanos de antigamente prometiam ser a cura de todos os males.
Em resumo, Stoll diz que as redes nivelam seus frequentadores por baixo e são dominadas por gente mal-amada, que não tem outra coisa a fazer a vida a não ser passar as madrugadas diante do computador.
Ele reclama que as amizades no ciberespaço são artificiais, que as conversas são irrelevantes e que a montanha de informação não serve para nada.
O astrônomo ataca especificamente os fóruns, onde é possível conversar on line com um grupo de outros infonautas sobre o tópico de sua escolha. Há hoje mais de 5 mil fóruns nas várias redes americanas de computador.
Stoll trocou os amigos eletrônicos por gente de carne e osso. ``Conversar, agora, só olhando nos olhos e com um café para esquentar", diz.
Na guerra por novos usuários, as redes America Online, CompuServe e Prodigy andam distribuindo disquetes e assinaturas de graça em encartes de revistas.
Você só paga a mensalidade (menos de US$ 10) e o tempo de uso. Estamos em pleno fenômeno de massificação.
Em janeiro passado, a venda de computadores nos Estados Unidos aumentou 30% em relação ao mês anterior e a taxa de assinatura das redes cresceu em média 5%. Já são mais de 10 milhões de usuários.
O pessoal da antiga torce o nariz para isso. Alguns temem ser contaminados pela mediocridade da classe média. Outros se deram conta de que estavam ficando viciados.
O problema é que americano às vezes é muito ingênuo. Tem gente que sinceramente acredita que os computadores vão resolver os problemas da raça humana. E que basta integrar-se a uma rede para conseguir amigo, namorada, casamento, enfim, o caminho da felicidade. Esses ``losers" (perdedores) é que estão caindo do cavalo.
Apesar de castigarem os fóruns, os críticos das redes não chegam a prever que elas vão ficar em desuso. Só recomendam aos assinantes que invistam seu tempo e dinheiro no que o ciberespaço tem de melhor: os arquivos acadêmicos da Internet, o correio eletrônico para mensagens essenciais e as edições on line de jornais e revistas.
Nessas coisas o Brasil e os EUA vivem em ciclos diferentes. Enquanto por aí distribuir o endereço é símbolo de status, por aqui já se chegou à fase de reservá-lo só para os mais íntimos. Feito número de telefone celular. Afinal, ninguém quer ter a obrigação de responder friamente a dezenas de mensagens.
Se é para jogar conversa fora, como disse o astrônomo, o melhor é fazê-lo numa mesa de bar, com um capuccino de lado. O meu, por favor, sem açúcar.

Texto Anterior: WexTech tem produto para reduzir imagens; Sai novo programa para operar "Windows NT"
Próximo Texto: Delrina apresenta soft com função de scanner ; Programa estimula comércio eletrônico
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.