São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 1995
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Brasil cria 'federação de mercadores', diz professor

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Estado brasileiro, financeiramente falido e politicamente amarrado ao programa de ajuste macroeconômico definido pelos interesses da nova ordem internacional globalizada, deixou de ser o agente de unificação da Federação.
Os verdadeiros responsáveis pelo novo desenho federativo ora em curso no país são os grandes grupos econômicos, que estariam retaliando a nação segundo a lógica de seus negócios.
Essa foi a tese central exposta ontem pelo cientista político José Luís Fiori, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no último dia do seminário ``Impasses e Perspectivas da Federação no Brasil", promovido em São Paulo pelo Iesp/Fundap (Instituto de Economia do Setor Público/Fundação do Desenvolvimento Administrativo).
``Estamos criando no Brasil não uma federação de cidadãos, mas uma federação de mercadores", disse Fiori, apropriando-se de uma expressão do presidente francês François Mitterrand, usada para definir a unificação européia.
Na avaliação de Fiori, o Estado brasileiro está a caminho de descaracterizar-se enquanto poder central capaz de manter funções sistêmicas integradoras.
``Vamos abrir mão das telecomunicações, do campo energético e do setor dos transportes, onde a Vale de Rio Doce tem cumprido um papel estratégico. Sem essa última coisinha que lhe resta, o Estado brasileiro não será apenas fraco, mas sim desfigurado."
Segundo Fiori, o processo de privatizações deve ser visto neste contexto: ``A primeira etapa desta negociação federativa feita pelos `business men' (homens de negócios) está se dando sobre o espólio do patrimônio público".
O desfecho desse processo, diz o cientista político, será a constituição de ``pequenas regiões de grande densidade econômica e imensas zonas sombrias ocupadas por aqueles que não puderam ser globalizados".
Impostos
Na mesma linha ácida de análise falou o economista João Manuel Cardoso de Mello, professor titular da Unicamp e um dos principais ideólogos do quercismo.
Segundo Cardoso de Mello, o Brasil está ``descobrindo de forma deslumbrada as figuras do contribuinte e do consumidor", o que é uma ``ironia" num país em que a classe média e os mais ricos ``não pagam quase nada de imposto".

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