São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 1995
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Novela aproxima "três mulheres baixas"

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Erramos: 17/05/95
Diferentemente do que foi publicado à capa da Ilustrada do dia 11 de maio, a escritora George Sand era francesa e não norte-americana.
Novela aproxima "três mulheres baixas"
Ainda que mulheres falem sempre mal de mulheres, e ainda que Bete Coelho, Lucélia Santos e Vera Zimmermann sejam mais colegas de trabalho do que amigas, podiam hoje ser novamente meninas cúmplices e levadas.
Atuariam juntas na mesma peça de teatro do quarto ano primário, ou fariam poses para o espelho do quarto da mãe, onde se miravam todo dia, falando sozinhas.
Mas são três atrizes adultas, que vão encher de talento a tela do horário nobre do SBT no final de junho, na recriação da novela ``Sangue do Meu Sangue".
As gravações começam na próxima segunda-feira, e elas esperam animadas para interpretar seus papéis nessa história que recupera o advento do abolicionismo no Brasil.
Lucélia Santos, a atriz mais conhecida do mundo por conta de ``A Escrava Isaura", dispensa apresentações. Depois de sete anos longe da TV, fará o papel de Júlia, mulher mal-amada, que se sacrifica pela família, mas dá a volta por cima e vira líder abolicionista.
Bete Coelho, a maior revelação do teatro das duas últimas décadas, vem se acostumando à TV e faz sua terceira novela (as outras foram ``Vamp", Globo, e ``Éramos Seis", SBT). Estará à vontade no duplo papel de Fabrício/Cecília, inspirado na escritora norte-americana George Sand.
Vera Zimmermann, bem adaptada à escolha certeira de Gerald Thomas de integrá-la a sua Companhia de Ópera Seca, onde já fez duas peças (``Unglauber" e ``Don Juan"), empresta a força de sua presença de palco ao vídeo, onde não aparecia em novela desde ``Meu Bem, Meu Mal" (Globo, 91). Vera será Viviane, jovem socialista formada em Paris.
À beira da piscina de um hotel de São Paulo, essas ``três mulheres baixas", de 30 e pouco anos, falaram à Folha sobre novela, teatro, cinema e vida.

Folha - O SBT já se constitui numa alternativa à Globo na área das novelas? Vocês, quando eram pequenas, assistiam Silvio Santos, hoje patrão das três?
(Gargalhadas)
Vera Zimmermann - Bom, quem não assistia?
Bete Coelho - Não só quando era pequena. Há alguma coisa melhor do que, domingão, sem nada para fazer, momento de pizza, Coca-cola e sorvete, você assistir ``Topa Tudo por Dinheiro"? Aquilo é engraçado. Depois que tive mais contato com esse lado popular, alguns preconceitos meus caíram.
Lucélia Santos - Eu acho que a única linguagem que o mercado entende é a da concorrência. É saudável para todos, artistas, técnicos, criadores, empresários. E quem mais ganha é o público, que terá mais alternativas. Há anos que os artistas sonham com um núcleo de teledramaturgia funcionando a todo vapor em São Paulo, que é a maior cidade do país.
Vera - É importante a concorrência entre emissoras, porque assim todas evoluem. A Globo vai começar a prestar mais atenção nas suas novelas. Aumenta o respeito pelo trabalho do ator e o salário. Surgem oportunidades para os atores de teatro, que não são conhecidos.
Bete - Outras emissoras estão voltando a fazer novela também, a Bandeirantes, a Manchete. No SBT, está se estabelecendo um núcleo de dramaturgia importante, porque mistura elementos teatrais, tem enriquecido o campo da televisão quanto à interpretação e à representação.
Folha - O que mais chamou a atenção de vocês em seus respectivos papéis em ``Sangue do Meu Sangue"?
Vera - No meu papel é o fato de se tratar de uma mulher moderna, que vem de Paris, tem outra cultura e encontra o Brasil ainda muito atrasado em comparação com a Europa. Ela vai tentar modificar as coisas, discutir os problemas sociais dos trabalhadores. Não vai ser só uma menininha bonitinha, sem nada na cabeça.
Lucélia - Eu tenho particular atração por histórias de época, e pelo século 19, pela questão abolicionista, pelo movimento anti-racista em geral. Estou superfeliz por voltar à televisão com essa novela. Minha personagem, a Julia, é típica do folhetim clássico, vítima do marido, que sofre, apanha e cala com dignidade, mas vai encontrar no movimento abolicionista o esteio para o fortalecimento de sua personalidade.
Bete - Para eu fazer novela, é importante que tenha uma personagem que me estimule. O ponto mais interessante desse personagem é a inspiração em George Sand. Vai ser um risco fazer papel de homem na televisão, mas eu sempre quis. Em teatro, já fiz alguns e adoro, até já sofro desse estigma. Fabrício, como George Sand, é uma mulher que se veste de homem por necessidade de época e financeira.
Folha - Vocês parecem animadas com a novela. Qual a importância da televisão para uma atriz brasileira hoje?
Lucélia - Eu não acho fundamental fazer televisão. Você pode sobreviver do teatro. Precisamos do teatro, porque é onde se aprende, é o que dá formação aos atores. Como a gente não tem condição de fazer cinema, quem gosta da lente e quer se relacionar com essa forma de interpretação tem que fazer televisão.
Bete - O teatro é um caminho mais árduo, financeira e artisticamente. Você precisa de um público. O Oficina, o TBC, esse pessoal viveu de teatro. Hoje a opção diminuiu. O público fica restrito às peças comerciais.

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sobre as "três mulheres baixas" à pag 5-5

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