São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 1995
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Atrizes reclamam da falta de diretores

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A seguir, Vera Zimmermann, Bete Coelho e Lucélia Santos falam sobre cinema, teatro e atuação política.

Folha - Vocês pensam em fazer cinema ou já tiraram isso da cabeça?
Vera - Eu morro de vontade e acho inclusive que a televisão é um veículo para o cinema, um aprendizado. O teatro é diferente. Você não pode fazer o que faz em teatro no cinema. Fica exagerado. Nunca fiz um grande papel em cinema, mas acho que as coisas estão melhorando.
Lucélia - Eu só penso nisso. É o que eu gosto de fazer. Sempre me relaciono com a lente sonhando com a linguagem cinematográfica. Vai demorar para a indústria cinematográfica brasileira se organizar e se fortalecer. O futuro é juntar cinema com televisão, como na Europa. A TV dá a estrutura financeira para as produções de cinema.
Bete - Para mim, o cinema é uma coisa desconhecida, como era a televisão. Em princípio, não tenho nenhuma vontade de fazer. Já fiz dois curtas premiados, já participei de longas também, mas nada significativo.
Folha - Além de dinheiro, o que falta no cinema e no teatro brasileiro?
Lucélia - No cinema, faltam roteiristas, técnicos especialistas nesse tipo de texto. E nos dois faltam diretores.
Vera - Faltam bons textos em cinema. E, embora haja excelentes atores, falta prática de cinema. Não temos o exercício do cinema porque não se faz muito filme.
Bete - No cinema, acho que falta tudo. No teatro, falta quantidade e qualidade em autoria, bons textos. Faltam diretores. No Brasil, como os atores são muito bons, acabam sabendo mais da carpintaria cênica, da linguagem teatral, da interpretação do que os diretores. E faltam atores bem formados e bem informados.
Folha - Ser pessoa pública implica ter militância política?
Lucélia - O que acontece no Brasil é que, se você tem uma atividade política como cidadã, que é o meu caso, isso às vezes, por preconceito, pode vir a atrapalhar até sua carreira. Você fica visada. E isso não é nada confortável.
Vera - Eu acho que é uma questão de personalidade. Não tenho essa vontade da Lucélia de participar politicamente, essa atração pela militância. Uma atuação assim exige responsabilidade, a pessoa tem que saber muito bem o que está falando e o que quer. Prefiro participar indiretamente.
Bete - Como pessoas públicas, nós temos uma responsabilidade que é inerente. Nossa opinião é ouvida, pedida a todo momento. Isso às vezes me deixa insegura. Nossa geração ainda tem que encontrar seu modo de participação política. Quando um artista tem coisas a dizer, há um preconceito grande. Basta ver o caso do Gil, a própria Lucélia, a Bete Mendes.
Folha - Qual a maior emoção que a profissão de atriz já trouxe?
Lucélia - Foi na Hungria, por conta do sucesso da ``Escrava Isaura". Fiz um show num estádio esportivo, e havia uma fila enorme de gente para pegar autógrafo. Caía uma nevasca intensa, coisa de livro. As pessoas estavam ali há quatro horas (lágrimas nos olhos) esperando um autógrafo, quando vi entre elas um menininho cego, que nunca tinha nem sequer ouvido a minha voz porque a novela era dublada. Então, ele não sabia nada de mim, nunca tinha me visto ou ouvido, mas estava na fila.
Vera - Talvez a coisa mais forte que experimentei tenha sido o início da minha carreira. Eu tinha 17 anos e, quando me vi, estava no palco, apavorada, trabalhando com o Antunes Filho, sem saber nada. Não tive um salto assim, do teatro amador para o teatro um pouquinho melhor e daí para o profissional. De cara fui trabalhar com um puta diretor, fazendo um puta papel. Foi um choque.
Bete - Eu tive várias emoções. A estréia do ``Processo", por exemplo. Estreei doente, com febre, com uma infecção nas vias respiratórias. E foi uma estréia maravilhosa, inesquecível. Ou então quando trabalhei com o Thomas na Áustria ou em Nova York, fazendo a trilogia em português e via depois uma platéia fervorosa aplaudindo. Aquilo era impressionante por mostrar que a linguagem do teatro está acima de idiomas.
Folha - A Bete me perguntou por que escolhi entrevistar vocês três juntas. Foi estranho?
Lucélia - Eu não achei estranho. Achei lindo. Adorei a companhia.
Vera - Acho que é pela falta de hábito, a gente está muito acostumada a dar entrevista sozinha.
Bete - É que achei teu gancho jornalístico diferente, a junção de nós três. Somos três pessoas com experiências distintas. E há outras grandes atrizes na novela. Mas até agora você não revelou o motivo...
(Risos)

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