São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 1995
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Ieltsin recua em venda de reatores ao Irã

DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Bill Clinton, 48, conseguiu apenas pequenas concessões de seu colega russo, Boris Ieltsin, após mais de três horas de reunião ontem em Moscou em que as discordâncias dominaram a pauta.
Ieltsin concordou em abandonar parte da venda de dois reatores nucleares para o Irã e em adiar decisão final sobre as demais partes do negócio por alguns meses, até que ele seja revisto por comissão russo-americana.
O presidente da Rússia também aceitou incluir seu país no programa ``Parceria para a Paz", patrocinado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Mas, apesar de referências públicas de Clinton nesse sentido, rejeitou qualquer recuo na sua política em relação à Tchetchênia, república russa que tentou obter independência e foi vítima da forte repressão.
``Este é um assunto interno da Rússia", disse Ieltsin em entrevista coletiva. Apesar de ontem mesmo terem ocorrido bombardeios russos na capital da Tchetchênia, Grozni, Ieltsin afirmou que ``não há hostilidades" lá (leia texto abaixo).
Estima-se que pelo menos 35 mil pessoas tenham morrido na guerra civil da Tchetchênia. Clinton apelou a estudantes da Universidade de Moscou: ``Essa terrível tragédia precisa chegar a uma conclusão rápida e pacífica".
Em outro momento tenso da entrevista, Ieltsin afirmou não ter medo de ameaças, referindo-se a projetos de lei que tramitam no Congresso dos EUA para impor sanções à Rússia, caso ela venda reatores ao Irã.
Clinton reconheceu que o negócio entre Rússia e Irã é legal. Mas argumentou que o Irã pode usar a tecnologia e o material nucleares comprados da Rússia para produzir armas atômicas.
Ieltsin concordou em retirar do pacote nuclear do Irã a venda de uma unidade de centrifugadores, considerada capaz de propiciar a possibilidade obter urânio enriquecido para construção de armas.
Ele também aceitou que todo o negócio seja revisto por comissão liderada pelo vice-presidente dos EUA, Al Gore, e pelo premiê russo, Viktor Tchernomirdin.
O secretário de Estado dos EUA, Warren Cristopher, que na semana passada dizia que só o cancelamento da venda da unidade ao Irã seria considerado insuficiente para seu país, ontem mudou de opinião.
Cristopher afirmou que ``a parte mais perigosa do acordo (entre Rússia e Irã) foi cancelada e isso representa um progresso real".
Clinton assinou decreto na segunda-feira pelo qual fica proibido qualquer comércio entre EUA e Irã. Cristopher está tentando há duas semanas obter apoio de outros países para o embargo comercial contra o Irã.
Nenhum país importante até agora aderiu ao boicote contra o Irã, considerado pelos EUA como o principal financiador do terrorismo mundial.
Apesar desses gestos de aparente boa vontade, Ieltsin deixou claro que não pretende abrir mão da venda dos reatores ao Irã, que deve render à Rússia US$ 1 bilhão: ``São reatores para fins pacíficos".
Quanto à Otan, aliança militar ocidental que foi a grande inimiga da URSS, Ieltsin decidiu aderir ao programa ``Parceria para a Paz", que representa passo inicial para filiação completa à entidade.
Mas o presidente russo reafirmou suas ressalvas à inclusão na Otan de países que fazem fronteira com a Rússia. A adesão da Rússia à ``Parceria para a Paz" será formalizada em 31 de maio.
Ao final do encontro, Clinton, com a aparência abatida, reconheceu que ``no desenvolvimento dessa relação (EUA-Rússia), haverá tempos em que as diferenças serão grandes".
Ieltsin declarou que ``mesmo depois desta cúpula, diferenças em relação a diversos assuntos não desapareceram".
O presidente norte-americano declarou que estará hoje na Ucrânia, em sua primeira visita ao país desde sua separação da URSS.

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