São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 1995
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'PC foi traído por políticos', diz Bandeira

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Ao deixar ontem a Argentina, de onde foi extraditado para o Brasil, o comandante Jorge Bandeira de Mello reforçou a sua fidelidade ao empresário Paulo César Farias, de quem foi sócio e piloto da Brasil-Jet, empresa de táxi aéreo.
``Ele (PC) é um homem correto, foi iludido, traído pelos políticos", disse. ``Para completar, fizeram dele o inimigo número um do país".
Quando o piloto foi preso, há 12 dias, em Buenos Aires, alguns setores da Polícia Federal passaram a apostar na seguinte tese: desesperado, Bandeira daria informações importantes nos inquéritos ainda em andamento sobre o Collorgate.
A volta do piloto ao Brasil aconteceu 22 meses depois da sua fuga. Na poltrona 31-A (janela) do vôo 391 da Varig, Bandeira fez parte da viagem de Buenos Aires a São Paulo com o braço direito algemado ao braço esquerdo de um agente da Polícia Federal (PF).
O piloto, que comandava os vôos do ``Morcego Negro", o lendário learjet 55 de PC, foi julgado pelo envolvimento no Collorgate, como ficou conhecido o caso que provocou o impeachment do então presidente Collor (1990-92).
Ele havia fugido do país em junho de 1993, em companhia de PC, no mesmo dia em que os dois tiveram as prisões preventivas decretadas pela Justiça.
Bandeira foi preso no dia 30 do mês passado, ao beijar sua mulher, Maria de Fátima, numa rua de Buenos Aires. Segundo o piloto, era o primeiro encontro dos dois depois da fuga.
O ex-sócio de PC na empresa de táxi aéreo Brasil-Jet foi acompanhado por um delegado e dois agentes da PF na sua viagem a São Paulo.
Ele chegou algemado à sala de embarque do Aeroporto Internacional de Buenos Aires, às 7h45, uma hora antes de viajar.
Cercado por policiais brasileiros e argentinos, o piloto teve as algemas retiradas enquanto aguardava a saída do avião.
Voltou a ser algemado para embarcar. Durante o vôo alternou momentos livres e de mãos atadas. Tudo dependia das ordens do delegado da PF Angelo Salinac, que coordenava os agentes policiais.
Na única vez que foi ao banheiro, 15 minutos após a decolagem, os dois agentes o acompanharam e ficaram colados à porta.
Bandeira aproveitou o tempo de mãos livres para ler revistas e o livro ``Deuda de Honor" (``Dívida de Honra", em português), um romance policial e de espionagem escrito por Tom Clancy.

Cela comum
Na carceragem da PF, em Brasília, Bandeira está em uma das nove celas comuns. O local mede quatro metros por cinco metros. Tem cama de alvenaria com colchão, uma mesa de alvenaria, uma latrina (privada no chão), um cano de água na parede (sem chuveiro) e uma câmera de circuito interno de TV.
Os advogados de defesa do piloto, que são os mesmos de PC, pediram ontem ao presidente do STF, Octavio Gallotti, o direito de o cliente ocupar prisão especial. O pedido deve ser julgado hoje.
Os advogados argumentam que apesar de Bandeira não ter diploma universitário, tem direito ao benefício por ser comandante de aeronave comercial. Eles se baseiam na lei 3.988, de 1961.
Na viagem de Bancoc (Tailândia) a Brasília, quando foi preso em 1993, PC conseguiu ficar livre de algemas. Segundo Bulhões, o uso de algemas só se justifica legalmente em caso de resistência da pessoa que está sendo conduzida.
Leia a seguir os principais trechos de entrevista do piloto Jorge Bandeira de Mello:

A FUGA
Saí do Brasil junto com ele (PC), mas a minha intenção era ficar aqui na Argentina. Não pensei em seguir para outro país.

OS VIZINHOS
Fui bem tratado pelos argentinos, que fazem amizade com facilidade. Tinha uma boa convivência com os meus vizinhos, mas nunca contei a minha história para minguém. Para desabafar falava comigo mesmo, em caminhadas.

PC FARIAS
Ele é um homem correto e foi iludido pelos políticos. Para completar fizeram dele o inimigo número 1 do país. A imprensa, que vive de vender jornais e revistas, ajudou nisso tudo, mas estava fazendo o seu papel. PC sempre foi correto.

ABASTECIMENTO
Não realizei operações financeiras em paraísos fiscais, como me acusam. Descia com as aeronaves para abastecimento de combustível, isso é comum: vôos que saem do Brasil precisam de paradas técnicas em lugares do Caribe.

Prisão
Gostaria de ficar em Maceió, perto da minha família, mas isso depende da Justiça e do entendimento com os meus advogados.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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