São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Filme surge da passagem por manicômio
DA REDAÇÃO Leia abaixo a continuação da entrevista com o cineasta André Luiz Oliveira.Folha - Por que essa ligação com a luta antiinternamento? Oliveira - Primeiro, porque eu estive internado, em 1973. Sei como a coisa é brava. Me prenderam com drogas, fui condenado a um ano. Fiquei um tempo na penitenciária. Depois, me transferiram para o Lemos de Brito (hospital penitenciário no Rio). Cumpri três meses e meio. O hospital era menos barra-pesada. Eu estava na ala dos loucos mansos. Quer dizer, tinha louco que já tinha matado gente na minha enfermaria. O cara que matou a Luz del Fuego estava lá comigo. Folha - Daí veio a idéia? Oliveira - Dessa experiência. Mas só pensei em fazer um filme nos anos 80. Encontrei o Calil, que era diretor da Embrafilme, e ele disse: ``Você precisa fazer um filme" e tal. O filme não saiu, mas o roteiro ficou. Folha - Faltou batalhar o filme, como se diz? Oliveira - Eu não fico alucinado com isso. Cinema é que nem uma cenoura que amarram na frente de uma vara. Dizem ``filme, filme" e todo mundo vai atrás. Folha - Ok, mas como você sobreviveu nesse tempo todo? Oliveira - Fiz muitas coisas. Com filme publicitário ganhei um monte de dinheiro. Mas eu fazia parte de um grupo meio místico. A gente revolveu ir para Campos do Jordão e montar um cinema. Tinha um tratamento acústico perfeito, projetores novinhos, uma beleza. Mas a gente só passava filme de arte. Godard, Wenders. Não entrava ninguém na sala. Em 15 dias, a gente ``deu" o cinema para um cara, em troca das dívidas. Folha - E você ficou pobre? Oliveira - Aí a gente faz o que aparece. Em 1990, mudei para Brasília, fiz publicidade de novo. Depois, com a crise, fiz mapa astral, dei aula de capoeira. Folha - E a volta, como foi? Oliveira - A idéia era fazer um roteiro chamado ``A Alma que Tirou o Corpo Fora". Mas era uma produção cara. ``Louco por Cinema" estava engavetado, era viável e tinha um assunto atual: a loucura e a busca de si mesmo. Folha - Você não projeta fazer outro filme? Oliveira - O Márcio Curi, produtor, está bem empenhado. Se tiver de acontecer, acontece. Aí será ``A Alma", que é outra comédia. Texto Anterior: "Vem tudo direto da cabeça" Próximo Texto: Guerreiro conhece arte da negociação Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |