São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 1995
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Afronta

A decisão da maioria dos petroleiros de dar prosseguimento à greve, radicalizando mesmo o movimento, é gravíssima e merece a mais veemente condenação. Ela representa um desrespeito flagrante e intolerável à Justiça, que, em sentença proferida na última terça-feira, julgou a paralisação abusiva e determinou a volta ao trabalho.
A própria interrupção das atividades como instrumento de pressão trabalhista, no caso dos petroleiros, já constitui um recurso que merece reparos. Como bem demonstram os problemas e a incerteza quanto ao abastecimento de gás de cozinha, é a população que acaba sofrendo com a greve, muito mais do que o empregador que -em tese- se pretende atingir.
Nesse sentido, aliás, não deixa de ser curioso notar que o movimento dos petroleiros coincide com uma verdadeira onda de paralisações de funcionários do setor público, esmagadoramente de categorias ligadas à CUT. Segundo quadro apresentado ontem por esta Folha, havia em curso no país pelo menos 6 paralisações na esfera federal e 20 em âmbito estadual ou municipal.
É no mínimo intrigante essa conjunção de atividade grevista em serviços públicos -muitos deles essenciais para a população-, o que induz a supor, para dizer o menos, a existência de uma motivação política para tais movimentos. Alguns dos grevistas, aliás, admitem abertamente que suas paralisações são contra as reformas constitucionais.
No caso dos petroleiros, de todo modo, a situação é ainda mais séria. Um Estado de Direito pressupõe tanto o respeito às garantias individuais dos cidadãos como também, necessariamente, o primado da lei e, seu correlato inseparável, o respeito às decisões do Poder Judiciário. Assim, os petroleiros, com seu radicalismo extremado, não estão apenas prejudicando a população -o que já é muito grave. Estão também afrontando a Justiça e, com ela, a própria democracia.

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