São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 1995
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Basta à violência

JOSÉ SARNEY

Sabe-se que toda sociedade fabrica seus próprios marginais. Todas elas, independente do estágio de desenvolvimento que atingiram, possuem a sua escória. O certo é que o caldo de cultura gerado pela miséria material e moral, a desesperança e o desespero, a desorganização da família e o abandono em que se encontram milhares de famílias carentes, catalisa o odioso fenômeno da violência.
Constatavam-se tempos atrás crimes de assalto e arrombamento nas grandes cidades, o que representa um sinal de alarme, pela sofisticação das ações. Hoje, o que se percebe é um crescimento do crime organizado, uma escalada da violência indiscriminada com alto nível de brutalidade.
E, o que é uma constatação inquietante, as pessoas parecem ter-se acostumado a verem cadáveres nas ruas, a proliferação de vítimas inocentes, a insegurança não só no espaço público, mas igualmente dentro das próprias residências.
O grande poeta parnasiano Raimundo Correia, em carta dirigida a Assis Brasil no ano de 1900, escreveu:
``A estatística criminal do Rio de Janeiro aterroriza. Todos os dias são portas arrombadas, assaltos em pleno dia, roubos, assassinatos! Nunca se viu tão grande falta de segurança pessoal, de justiça e de moralidade pública. Os cidadãos precisam andar armados para se defenderem já que a polícia não os defende, e fazer mesmo justiça por suas próprias mãos já que não podem contar com a dos tribunais do país, que é demorada e tão cara e dispendiosa, que só os ricos a poderão obter."
E assim por diante vai a indignação do poeta maranhense que residia à época na cidade do Rio de Janeiro.
Por outro lado, outro fenômeno atual no que se refere à violência é a multiplicação do crime organizado, o aumento do nível de sofisticação das quadrilhas, do aparato de guerra acumulado, de seu poder de fogo. Numa expansão matricial, o crime estende seus tentáculos a diferentes países, com sucursais aqui e ali -os narcotraficantes colombianos, a Máfia e a Yakusa, só para citar os exemplos mais notórios.
Hoje pode-se dizer, sem temer incorrer em exagero, que há uma internacional do crime, o crime globalizado, sempre em busca, ele também, de novas áreas de atuação, de novos mercados.
O Estado, através de seus quadros responsáveis, muitas vezes sente-se ultrapassado por lamentáveis acontecimentos, e até sente-se impotente.
Há que ter, no entanto, uma ação vigorosa para estabelecer a presença do Estado, o que vale dizer do império da lei, nas áreas consideradas santuários inexpugnáveis do crime organizado. Há que se treinar e aparelhar melhor as polícias, recompensar os seus agentes e policiais com melhores salários.
As Forças Armadas recentemente foram compelidas a intervir, com a aquiescência do governo do Estado do Rio de Janeiro, a fim de reduzir a violência e o crime organizado a patamares pelo menos toleráveis pela sociedade.
A ação rendeu frutos evidentes e imediatos. E creio que não se deva ter pruridos de novas intervenções, até que a polícia e o Judiciário possuam plena condição para agir com mais eficiência e rapidez. É também necessário que o país seja dotado de leis eficientes e modernas no combate e na prevenção ao crime. Essa é uma tarefa que incumbe a todos, pois são esses os anseios e reclamos da sociedade: viver em paz.

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